Conhece a realidade do distrito, de Argoncilhe a Pampilhosa, de Paiva a Sosa? Acredita que a equipa que lidera por Aveiro tem esse conhecimento?
O LIVRE tem candidatos e candidatas de vários pontos do distrito, desde Espinho a Águeda. É uma lista completamente paritária, e com diferentes idades e perfis. É importante ter pessoas naturais ou que residam no distrito e conheçam as diferentes realidades locais, seja por via dos contactos profissionais que realizam, pela participação cívica ou mesmo pelo envolvimento associativo. Todas essas experiências são relevantes para ter respostas para os problemas do distrito.
De uma forma específica, diga-nos três coisas que importa melhorar no distrito?
Três aspetos fundamentais a melhorar no distrito são a coesão intermunicipal, nomeadamente no que diz respeito à mobilidade e aos transportes públicos; a habitação, procurando travar a escalada de preços, mas também investindo seriamente no conforto térmico das mesmas, numa região sujeita a condições de humidade elevada mas onde as temperaturas são, apesar de tudo, amenas, é inaceitável que tantas famílias passem frio nas casas ou tenham infiltrações. Finalmente, é prioritário olhar para o ambiente natural da região como parte incontornável da decisão política e melhor a proteção dos ecossistemas locais como garante do futuro da habitabilidade da região. A proteção da biodiversidade e geodiversidade devem ser um objetivo central, permitindo aprofundar a simbiose entre as atividades humanas e o mudo natural e salvaguardando a qualidade de vida das gerações futuras.
Qual a melhor forma de combater a ideia de que quem chega à Assembleia da República/Governo esquece rapidamente o distrito pelo qual foi eleito?
Implementar compromissos de participação cívica que permitam construir e garantir o envolvimento não só dos cidadãos e cidadãs com o trabalho dos deputados eleitos por cada um dos distritos, bem como a responsabilidade de transparência entre as necessidades e preocupações locais e regionais. Assim, através de medidas mais direcionadas à resolução de problemas de âmbito distrital permitirá que a ideia de distância ou “esquecimento” diminua. O LIVRE reconhece ainda como fundamental trazer para o debate o objetivo da regionalização como instrumento de coesão e unidade territorial. O desequilíbrio e desigualdade entre unidades municipais não tem resposta na articulação em distritos que permanece apenas para efeitos eleitorais pelo que é urgente debater uma nova organização que permita aprofundar a democracia e melhor a decisão de políticas integradas que faça sentido nas diferentes particularidades locais, salvaguardando a interligação do território e das pessoas.
Que resultados espera alcançar no dia 10 de março (número de deputados por Aveiro)?
O LIVRE tem três objetivos nestas eleições: construir uma maioria, à esquerda, do progresso, da ecologia, e que seja capaz de construir as soluções de futuro de que o nosso país precisa. Construir estas soluções passa por afastar forças extremistas e anti-democráticas do poder, que apenas querem semear o ódio e a discórdia, virando-nos uns contra os outros, amigos contra amigos e familiares contra familiares. Para atingir estes dois objetivos, é preciso que o LIVRE cresça, assegurando um grupo parlamentar com o maior número de deputados possível, reforçando a nossa presença e capacidade de trabalho e intervenção na Assembleia da República. Um voto no LIVRE será sempre um voto que contribui para tirar espaço à extrema-direita e para nos ajudar a crescer. As sondagens têm vindo a refletir esse mesmo crescimento, que também sentimos na rua e no contacto direto com as pessoas, e que nos dá possibilidade de eleger em Aveiro, um dos distritos que elege mais deputados.
Uma das questões que mais tem preocupado os aveirenses prende-se com a tão aguardada ampliação do Hospital de Aveiro, que tarda em avançar. O que se propõe a fazer em relação a esta matéria?
As obras de ampliação são de facto urgentes, mas estão nesta altura a decorrer os procedimentos legais normais para a contratação da empreitada depois de o governo ter finalmente aprovado a obra em 2022 e de lhe terem sido destinados 30 milhões de euros. O funcionamento do Hospital de Aveiro em pré-fabricados, como acontece há largos anos, é absolutamente insustentável e um desserviço a todos os profissionais de saúde que aí trabalham, e, obviamente, aos utentes, que são os principais prejudicados e que merecem ter na capital de distrito um hospital público que reflita o melhor do SNS e não o desinvestimento nas infraestruturas e no pessoal a que temos vindo a assistir.
O traçado da linha ferroviária de alta velocidade tem gerado polémica em vários pontos do distrito. O que tem a dizer às populações afetadas?
Como tudo o que o LIVRE defende, a modernização e alargamento da rede ferroviária nacional deve ser feita com as pessoas e não contra as pessoas. Nenhuma política pública de grande escala deve decidir-se sem um debate informado e a auscultação das pessoas afetadas, por muito bem intencionada que seja. Feito esse debate e reconhecendo que em muitas questões não há uma solução que agrade a todos, é essencial obter consensos e criar alternativas para quem venha a ser afetado, diminuindo ao máximo os impactos negativos dessa decisão. A linha de alta velocidade tarda em avançar em Portugal; o atraso face aos países com que nos comparamos deve ser um motivo de urgência sem, contudo, pôr em causa o rigor e a transparência com que o processo é conduzido.
Faz sentido investir na requalificação e modernização da linha do Vouga?
Investir na requalificação e modernização da linha do Vouga é crucial não só pelo desenvolvimento económico e social regional, mas também pela urgência da transição para modos de mobilidade mais inclusivos e sustentáveis, que permitam reduzir a dependência do carro. O transporte ferroviário assume um papel central nesta transição, sendo não só enquanto fator de coesão territorial mas oferecendo uma alternativa que pode e deve ser a resposta em muitos dos trajetos onde o transporte individual assume ainda uma enorme preponderância. Não podemos, por outro lado, esperar que as pessoas façam escolhas que lhes são desvantajosas ou pouco práticas e é por isso fundamental acelerar o investimento na rede ferroviária, nomeadamente no distrito de Aveiro, tornando essa opção a mais economicamente vantajosa e com melhor resposta às necessidades das pessoas, em termos de horários, acessibilidade, troços ou paragens. Só com uma oferta verdadeiramente inclusiva e feita para os locais se pode esperar uma alteração dos hábitos individuais que possa coletivamente contribuir para uma maior qualidade de vida e para a sustentabilidade da vida no planeta.
O tema das scut voltou a estar na agenda da campanha eleitoral. O que se propõe fazer em relação a isto?
Esta é uma questão que faz sentido analisar caso a caso e perceber qual a realidade concreta para adequar a resposta. Fundamentalmente, deve sempre assegurar-se a existência de alternativa segura para o transporte rodoviário. Quando uma nova estrada ou autoestrada vem substituir uma estrada nacional onde a sinistralidade é alta, não faz sentido desincentivar as pessoas de usarem as estradas mais seguras. Entre os vários fatores a ter em conta, os transportes públicos também devem ser tidos como alternativa viável, garantindo a sua acessibilidade e capacidade de resposta face às necessidades para determinado trajeto.