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Catarina, a aveirense que é (muito) mais do que uma capa de revista polémica

Sociedade

Acredita na justiça desde que se lembra. Mas foi a primeira a ser injusta consigo própria, ainda em tenra idade. Catarina Corujo, natural de Aveiro e com 31 anos, achou, durante muito tempo, que não se encaixava nos padrões de beleza aceites pela sociedade e boicotou-se a si própria. Viu-se de frente com a depressão. Sofreu de bulimia. Engordou 30 quilos.

Hoje, é cada vez mais apaixonada pelo seu corpo e pela pessoa que é, ao ponto de ser confiante para fazer trabalhos como modelo de tamanhos grandes. E deixou-se fotografar para a última edição da revista “Cristina”, desnudada da cintura para cima, vendo-se falada, bem e mal, nas redes sociais. Fê-lo com um propósito claro: “chegar a muitas pessoas que se sentem ostracizadas pela sociedade e pela leviandade com que se fala do corpo alheio”. E atingiu-o.

Quem é a Catarina? O que é que te move e quais são as tuas paixões?Sou uma pessoa muito simples, reservada, amiga do meu amigo, verdadeira ao mesmo tempo que muito diplomática. Hoje, depois de tudo o que aprendi, tornei-me em alguém emocionalmente independente, crítica comigo e com os outros. Orgulho-me muito de ser alguém que abandonou a tendência de “julgar o livro pela capa”, sendo muito mais compreensiva e focada nas soluções. Hoje, mais importante do que tudo isso, sou muito apaixonada por mim, pela pessoa que sou e me vou tornando. Indo um bocadinho ao passado, como é que foi, desde pequena, a tua relação com o teu corpo?

Eu sempre fui grande, não sei especificar valores, mas desde cedo me habituei a comparar-me ao aclamado “padrão de beleza”. E na adolescência tudo se tornou um misto de confusão e rejeição. Hoje, olho para trás e vejo que não havia nada de errado com o meu corpo. No entanto, cresci com medo de tudo o que o excesso de peso me iria trazer no futuro, tal como não encontrar emprego, não ter credibilidade perante a sociedade, não encontrar alguém que me amasse e sofrer de todas as doenças possíveis, cuja causa era o excesso de peso.

Todos esses pensamentos levaram-me à exclusão social, tornando-se na bola de neve que foi entrar em depressão. Deixei de ter confiança nas minhas capacidades e de falar com pessoas, pois na minha cabeça todos me iriam julgar pelo meu corpo. Levei-me a um lugar só meu, bem cinzento, de descuido por mim. E engordei 30 quilos. Ainda guardo algum desse peso comigo, mas, ao longo dos anos, e quanto mais invisto em mim própria, sem o objetivo cego e exclusivo de perder peso, mas sim com a vontade de me sentir saudável e ativa, o meu corpo vai encontrando o seu equilíbrio.

Mas sentes que sofreste com o preconceito associado ao excesso de peso? Na escola, por exemplo... Nunca sofri de “bullying”. Como sempre fui mais alta do que todos e tinha uma postura em que não aceitava injustiças, nunca o permiti. Se existiam criticas, não soube delas. A minha relação com o meu corpo sempre foi algo potenciado pela comparação com o que era suposto ser, minha e dos outros. Nunca me trataram mal pelo meu excesso de peso, mas quando a nossa mente está já tão distorcida, conseguimos ver até os meros olhares “discretos” para o nosso prato de comida ou para o nosso corpo. E era isso o que mais afetava a minha auto-estima. Sofreste também de bulimia e de compulsão alimentar. Como é que as ultrapassaste? Sofri bulimia na adolescência, quando associava culpa a tudo o que comia. Fazia-o na tentativa de me redimir das compulsões. No entanto, ao ver o efeito físico que tinha em mim no ato, fez-me parar. Já a compulsão alimentar, sempre esteve sempre ligada à restrição que sempre me tentei impor a mim própria em todas as dietas que fiz. Assim que cometia um erro e sabotava uma dieta, vinha o sentimento de falha, de não valer a pena, e comia tudo aquilo que era “proibido”. Numa fase em que cumpria a “refeição do lixo”, só pensava em comer tudo o que me fosse possível, porque sabia que no dia a seguir não ia ter aquela oportunidade.

Até que, ao ler um livro que me deu a conhecer termos como “alimentação intuitiva” e ao começar a ter por referência pessoas que não catalogavam a comida como “saudável” ou “não saudável”, mas sim pela sua oferta nutricional, desmistifiquei todo o conceito de proibido ou permitido. Entendi que, mais do que ninguém, só eu podia ser a minha melhor amiga, só eu podia decidir cuidar do meu corpo e o que como para o alimentar. Entendi que só eu poderia encontrar o meu equilíbrio, ao fazer as pazes com a comida e com o meu corpo.

Entretanto, como é que a mesma Catarina chega a modelo de tamanhos grandes? Em agosto do ano passado, participei num concurso de beleza de uma marca de roupa “plus size”, a MaGGnifica, o que me deu a visibilidade e os contatos para poder fazer trabalhos na área. Ainda é algo muito recente, mas que tenho feito com muito gosto. Tem me permitido conhecer muitas pessoas que passaram pelo mesmo que eu e pior até. Desde miúda que adoro fotografia e moda, logo é uma área no qual me vejo a trabalhar até me ser possível! Achas que é importante haver modelos de outros tamanhos, diferentes daqueles a que a moda nos habituou? É muito importante existir variedade no mundo da moda. Penso que cada marca deve ter o direito de ter os requisitos que lhe interessa, mas deve existir mais oportunidade para que tanto mulheres como homens tenham referência das opções que têm. O que a moda me habituou a ver não é, de todo, o que vejo na rua todos os dias. Daí ser tão importante a representatividade.

E, além de seres modelo, qual tem sido o teu percurso profissional?Sempre fui uma sonhadora apaixonada pela justiça, o que me fez escolher Direito como percurso académico inicial. No entanto, por opção própria e porque a vida deu as suas voltas, licenciei-me em Línguas e Relações Empresariais, pela Universidade de Aveiro. Estudei um semestre na República Checa e foi um dos períodos mais gratificantes da minha vida, pois potenciou-me intelectualmente a estar mais consciente que somos todos diferentes, mas que queremos todos o mesmo: amar e ser amados. Depois da licenciatura, trabalhei na área, mas acabei por deixar por ter sonhos maiores, como a maquilhagem – na qual me formei recentemente e na qual trabalho – e, mais recentemente, a moda. Quando é que, entretanto, surge a mulher confiante que é capaz de se despir para a capa de uma revista de tiragem nacional?Surge todos os dias, sinceramente. A capa nunca foi algo que tivesse ponderado sequer fazer um dia, mas a mensagem por detrás dela levou-me a fazê-la. Não foi uma confirmação do amor que construí por mim própria, mas, sim, um meio para chegar a muitas pessoas que se sentem ostracizadas pela sociedade e pela leviandade com que se fala do corpo alheio.

Para chegar ao ponto de pensar “são só mamas”, foi todo um processo de reconhecimento de mim própria e do que posso fazer com o meu corpo, independentemente do que possam dizer. Foi entender que, na verdade, mesmo quando nos limitamos, há sempre alguém que vai falar. E está tudo bem, porque eu terei sempre a liberdade de fazer o que quiser com o meu corpo, quando eu o assim entender.

E atingiste o teu objetivo?Sem dúvida. O meu objetivo era, principalmente, mostrar que sim, é possível ser gorda, diferente do que é esperado, e, mesmo assim, gostar do que somos, independentemente de até o podermos querer mudar, ou não. O feedback tem sido incrível e existem imensas pessoas na mesma situação que eu, que se sentem representadas e que se identificam com o meu percurso. Como é que lidaste com a polémica que se instalou nas redes sociais, a partir do momento em que a tua capa foi mostrada ao público?Continuo com a minha vida, normalmente. Tinha a perfeita consciência de que não é possível agradar a todos, sendo a nudez ainda vista com muito preconceito. As pessoas têm todo o direito de não gostar. O meu conselho, para quem não gostou, foi optarem pelas outras três capas disponíveis da revista, que estão igualmente bonitas. Felizmente, sou muito segura do porquê de ter feito essa produção e tenho um sistema de suporte incrível, com as pessoas que me importam. Logo, não esperava aprovação de ninguém nem dependia disso.

Até hoje, ainda não recebi nenhuma mensagem de ódio. Felizmente estou só a ser abordada por pessoas que se identificam e/ou adoraram o conceito da capa e a entrevista.

O que é que anseias do futuro?Desejo que as pessoas se preocupem menos em ofender gratuitamente as outras pessoas e que tenham mais consciência do impacto das palavras que usam. Desejo, ainda, que a liberdade seja entendida como uma possibilidade e nunca como uma imposição. Liberdade para podermos ser o que sonhamos, sem que o tamanho do nosso corpo seja alvo de descriminação. * Créditos das fotos: Luís Borges

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