A sua participação no concurso MasterChef (TVI) foi o empurrão para assumir a sua vocação por inteiro. Deixou o cargo de bancário e apostou todas as fichas na cozinha. Organizou um crowdfunding para abrir um restaurante – Le Moustache Smokery – e começou a surpreender com a sua cozinha. Chegado a Aveiro, há cinco anos, Daniel Cardoso assumiu a abertura do Armazém da Alfândega, passando mais tarde pelo Un Poco Loco. No passado mês de agosto, brindou a cidade da ria com o Moloko, num investimento que surge em contra-ciclo, reconhece, mas que tem todas as condições para crescer.
É o primeiro a reconhecer que foi vítima de amor à primeira vista. Sentiu-se rapidamente conquistado pelas gentes aveirenses. Para trás ficou Lisboa, a terra que o viu nascer enquanto pessoa e enquanto profissional. Hoje, aos 38 anos, confessa-se completamente rendido à cidade da ria. E a prova aí está: foi em Aveiro que decidiu sediar o seu mais recente projeto, o Moloko, que está prestes a ganhar maior escala. O até agora gastro bar vai passar a contar, também, com uma open kitchen: um espaço no qual Daniel Cardoso estará a cozinhar ao vivo e à mercê da sua criatividade.
A abertura está marcada para o próximo dia 3 de dezembro, no início de mais um fim de semana agonizante para os proprietários dos restaurantes, por força da limitação de horários imposta pelo Estado de Emergência. Daniel Cardoso não esconde a preocupação. Na verdade, tem feito mais do que isso. Tem sido uma voz ativa nos protestos que os empresários da restauração têm levado a cabo em Aveiro. Uma espécie de “chef Ljubomir Stanisic” à escala da região de Aveiro. “Não faria essa comparação, até porque esse senhor já tem muitos anos de estaleca”, reage aquele que é um dos principais dinamizadores das iniciativas A Pão e Água em Aveiro.
“O governo não olhou para a restauração. Sabe que temos margens muito pequenas e tirarem-nos o ganha pão do fim de semana é completamente incompreensível”, critica, lamentando, acima de tudo, os efeitos que alguns colegas seus já estão a sentir. “Já não estão a aguentar as contas e a saúde mental também se está a ir abaixo”, adverte.
Perante este cenário difícil, Daniel Cardoso deixa uma sugestão aos aveirenses e aos portugueses em geral: adotar esse hábito espanhol, e também inglês, de ir beber um copo depois de sair do trabalho. “Vamos ali beber um copo, comer um petisco acolá e assim damos um pouco a cada um”, exemplifica. É certo que nem todos o poderão fazer - por terem filhos ou horários de trabalho que não o permitem - mas o desafio está lançado. Toca a aceitar.
Um conceito inovador
Por mais cinzentos que os próximos fins de semana possam adivinhar-se, o Moloko quer surpreender os aveirenses com a sua open kitchen. “A proposta passa pela degustação de seis pratos, que são surpresa”, anuncia o chef. Já o bar, a funcionar desde agosto, continuará a apostar nos tacos (atum, marinhoa ou bacalhau fumado), ceviches, carpaccios, francesinhas, entre outros petiscos ou pratos mais elaborados.
Para mais tarde, e ainda sem data marcada, fica a abertura de um terceiro espaço, dedicado à cozinha japonesa, no piso superior do número 15 da Travessa do Rossio, ao lado da Praça do Peixe, em Aveiro.