Já esteve à frente de iniciativas como a “Futuro das Redes”, foi responsável pela Internet do futuro (incluindo os sistemas da 5.ª geração e a Internet das Coisas) e pela computação em nuvem. Em março, foi nomeado diretor-geral de Informática da Comissão Europeia, corolário do seu longo historial de liderança no campo da transformação digital. Mário Campolargo, 64 anos, não é apenas um aveirense em Bruxelas, é um aveirense na liderança da Estratégia Digital da Comissão Europeia. Prestes a chegar à reforma, mostra-se empenhado em continuar a dar o seu contributo ao país, à Europa e à sociedade em geral.
Mário Campolargo entrou para a Comissão Europeia em 1990, pouco depois de ter Portugal ter aderido à CEE - Comunidade Económica Europeia (1986). “Na altura em que Portugal aderiu à CEE, eu estava a trabalhar no CET, em Aveiro, e que agora é a Altice Lab, e iniciei o primeiro projeto europeu em que Portugal participou”, recorda. Antes disso já tinha andado por Inglaterra, onde fez um pós-graduação em Ciência da Computação (Imperial College de Londres), complementando a licenciatura em Engenharia Eletrónica que havia concluído na Universidade de Coimbra - a este currículo académico juntou, depois, uma pós-graduação em Estudos Europeus, pela Universidade Católica de Louvain-la-Neuve (Bélgica).
E se é verdade que a Europa faz hoje parte do nosso dia-a-dia, quando Mário Campolargo se mudou de armas e bagagens para Bruxelas, o cenário era completamente distinto. “Foi uma grande aventura pessoal e profissional. Pessoal, porque levei a família toda; e profissionalmente, porque era um engenheiro português a trabalhar numa dimensão europeia, senão global”, confessa, sem deixar de reparar que essas exigências também foram um factor de motivação.
“Poder fazer parte dessa nova jornada e participar da construção dessa nova Europa foi muito importante”, vinca. “A Europa é uma construção muito sui generis, que eu acho particularmente inventiva e interessante, de balancear uma delegação poderes”, acrescenta.
A longa carreira que Mário Campolargo tem vindo a construir em Bruxelas atingiu um dos seus pontos mais altos em 2016, quando passou a ser diretor-geral adjunto da DIGIT (Direção Geral de Informática) da Comissão Europeia, tendo assumido a liderança de importantes projetos digitais, setor que passou a estar ainda mais no centro das atenções em 2020 e 2021, com a pandemia.
O teletrabalho deixou de ser exceção para ser a regra, os eventos em formato online passaram a dominar os nossos dias, numa onda de mudança que também trouxe novos desafios, nomeadamente ao nível da cibersegurança. “Da mesma maneira que o digital traz novas oportunidades e inovações, também há essa parte negra da internet, que tem os seus modelos de negócio próprios. Hoje, o hacking é algo profissionalizado, há aqueles que produzem o software para atacar e que o vendem a outros, depois negoceia-se a indeminização…”, adverte o diretor-geral de Informática da Comissão Europeia.
De Ílhavo para Bruxelas e de Bruxelas para Ílhavo
Mário Campolargo nasceu e cresceu na Gafanha de Aquém, localidade do município de Ílhavo à qual regressa sempre que pode. Foi dali que saiu, diretamente, para a grande cidade de Bruxelas, já lá vão 30 anos. “Nunca tinha comprado batatas, porque na Gafanha não se compram batatas. Há um vizinho que as dá”, recorda, com humor.
A adaptação à nova cidade acabou por ser facilitada por alguns conterrâneos ilhavenses que já estavam em Bruxelas. “Como eu já tinha um empenhamento social na Gafanha, nomeadamente através da Tulha, comecei logo a ter uma participação muito ativa na comunidade portuguesa”, testemunha aquele que chegou a ser o representante da comunidade portuguesa na Bélgica.
O regresso à terra natal deve estar para breve, uma vez que estará a poucas semanas de passar à reforma. Não será uma despedida do trabalho ativo. Mário Campolargo diz que gostava de dar à sociedade aquilo que ela investiu em si: “o conhecimento que eu tenho na área da governança, das tecnologias de ponta, como 5G, cloud, inteligiência artificial, gostava que poder retornar isso à sociedade através de colaborações, pro bono, com universidades ou com outras instituições”. “Essa ideia de que quando atingimos um número, uma idade, acaba a nossa vida ativa, não me agrada, desde que eu me sinta, fisicamente e intelectualmente, capaz”, acrescenta.