Investigadores da unidade GeoBioTec, do Departamente de Geociências da Universidade de Aveiro estão a tentar identificar vestígios de vida em Marte. Slavka Carvalho Andrejkovi?ová, investigadora responsável pelos trabalhos laboratoriais na UA, esteve mais de três anos a trabalhar no Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA, nos Estados Unidos, na equipa do roverespacial a operar no planeta Marte, o Curiosity. Atualmente, Slavka é “cientista externa especial” desta equipa e membro do novo centro de astrobiologia da agência espacial norte-americana.
No planeta vermelho, os equipamentos de prospeção do Curiosity escavaram argilas numa bacia sedimentar que foram depois aquecidas a altas temperaturas e das quais resultaram algumas moléculas orgânicas simples. Neste momento, o objetivo é perceber que moléculas mais complexas poderão estar na origem destas, através de trabalho laboratorial feito na Terra.
Por cá, na Universidade de Aveiro, Slavka prossegue a sua investigação, tentando reproduzir os resultados obtidos pelos equipamentos a bordo do Curiosity. O trabalho laboratorial envolve a análise de argilas similares às escavadas em Marte, mas limpas de qualquer influência orgânica terrestre, que depois são associadas a determinado tipo de aminoácidos e manipuladas com réplicas dos equipamentos instalados a bordo do rover espacial. Se os resultados obtidos no laboratório coincidirem com os obtidos em Marte pelo Curiosity, tal comprovará a existência de aminoácidos em Marte. “Seria uma descoberta incrível, já que os aminoácidos são um dos ingredientes principais dos seres vivos; esta descoberta poderá comprovar a hipótese de que terá existido vida em Marte no passado”, afirma a investigadora da UA que considera que os resultados têm sido “muito promissores”. “Uma das descobertas mais importantes que obtivemos foi a libertação de CO2, quando estas argilas com aminoácidos preparadas em laboratório foram aquecidas a temperaturas muito semelhantes às medidas pelo Curiosity numa das amostras recolhidas em Marte: fantástico!”, salienta com entusiasmo.
No entanto, sublinha ainda que este é um trabalho moroso e muito delicado, longe, muito longe de um trabalho laboratorial simples, sendo necessárias muitas tentativas para se chegar a conclusões sólidas. A maior dificuldade está na garantia de que as moléculas orgânicas terrestres não afetam as amostras, não estarão nos instrumentos, nem no restante material usado. Só a passagem por diversos solventes e, no caso das amostras, cerca de cinco semanas de preparação, poderão dar essa garantia.