A descoberta de fontes hidrotermais que começou por ser um dos maiores avanços científicos nas ciências da terra no século XX, comprovando in situ a teoria tectónica, revelou inesperadamente um dos ecossistemas mais fascinantes do planeta. A equipa de investigação da Universidade de Aveiro (UA) no projeto HACON exibe uma exposição na Galeria DBio, no Departamento de Biologia da UA, de acesso livre, visitável de 11 de abril a 13 de maio.
Quando, em 1977, uma expedição de geólogos encontrou uma exuberante quantidade de vida associada a chaminés hidrotermais na rífte das Galápagos iniciou-se uma das linhas de investigação mais importantes das ciências biológicas, cujo primeiro resultado foi quebrar o paradigma de que toda a vida na Terra depende da luz solar. As condições ambientais extremas em que a vida prospera junto a fontes hidrotermais tem levado a descobertas na área da biotecnologia azul, levantado várias hipóteses sobre a origem da vida na Terra e até sobre a possibilidade de vida nos oceanos de outros planetas.
Por outro lado, o potencial económico dos depósitos minerais associados a chaminés hidrotermais, ricos em matérias-primas essenciais para tecnologias de energia renovável, tem atraído a atenção da indústria extrativa. Apesar dos imensos avanços atingidos nos últimos 40 anos, o estudo das fontes hidrotermais no oceano profundo ainda se encontra numa fase de exploração e descoberta.
A crista meso-oceânica de Gakkel, no oceano Ártico, permanece quase completamente inexplorada e os ecossistemas nesta região, permanentemente debaixo de gelo, são largamente desconhecidos. As primeiras evidências de hidrotermalismo ativo na crista de Gakkel foram encontradas em 2001, mas a confirmação visual só foi obtida em 2014 no monte submarino Aurora. O projeto HACON regressou a este monte submarino em 2019 e 2021 utilizando as mais modernas infraestruturas de investigação polar oceanográfica, incluindo o quebra-gelo norueguês Kronprins Haakon e veículos subaquáticos como o HROV Nereid Under Ice (WHOI, EUA) e o ROV Aurora (REV Ocean, Noruega), naquele que é o primeiro estudo multidisciplinar de fontes hidrotermais profundas (4000 m) sob cobertura de gelo permanente no Ártico (82°N).
A equipa de investigação da Universidade de Aveiro no projeto HACON, coordenada por Ana Hilário, organiza a próxima mostra de fotografia do espaço Galeria DBio, com inauguração prevista para o próximo dia 11 de abril, segunda feira, e disponível para visita até 13 de maio de 2022.
Neste conjunto de fotografias e vídeos mostram-se a paisagem à superfície, elementos da vida a bordo e as primeiras imagens do campo hidrotermal Aurora, onde as temperaturas chegam aos 350° Celsius.