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Luís Pato: “Estou sempre a aprender, a tentar melhorar”

Vinhos

É um nome incontornável na área do vinho, dentro e fora do país - exporta para cerca de 40 países. Luís Pato elevou a bandeira do vinho português como nunca antes tinha sido feito por nenhum produtor independente e, acima de tudo, conseguiu promover como ninguém as uvas da Bairrada. Em 2021, a carreira deste produtor bairradino, de 74 anos, deu um documentário. “Pato Pathos” estreou em novembro, no âmbito de mais uma edição do Porto/Post/Doc, e vai ser exibido, esta sexta-feira, em Anadia. Um filme que assinala os 40 anos de vindimas deste produtor e que serviu de pretexto a uma conversa com a Aveiro Mag.

Começamos pelo documentário que estreou em Novembro e vai agora ser apresentado na Bairrada. Gostou do resultado final?

Sim. É uma conjugação de várias coisas que a Cátia encontrou lá pelo sótão, conjugado com as entrevistas que ela me faz. É interpretar a minha evolução ao longo de 40 anos.

É muito tempo...

É. E gostava que fossem 60, gostava que fossem mais. Eu tento sempre manter algum espírito jovem. Quando nós cristalizamos ou nos aposentamos, a natureza deve dizer: “É pá, este já não é preciso para nada”. Eu penso que devemos ter sempre a cabeça ativa, algo que nos mantenha vivos de espírito. Por isso é que me dá um gozo grande fazer algo novo a cada ano. Agora tenho os vinhos da Maria João, um desafio que me dá um gozo grande, porque saímos do clássico e temos de fazer uma interpretação de como fazer. Aquilo é apresentado como um vinho natural, mas, na minha interpretação, é um vinho de intervenção mínima. Não usamos os produtos químicos que os enólogos normalmente usam e o vinho tem de ser bebível. Muitas vezes vendem-se vinhos desses só porque são naturais, mas depois aquilo não presta para nada. Essa é que é a minha interpretação do projeto: não deixar descair as coisas, fazer o vinho com lógica.

O que é que ainda falta fazer a Luís Pato?

Muito. Costumo dizer que não sou enólogo e que só serei enólogo quando morrer, pois, a partir daí, eu já não posso aprender mais nada. Todos os anos faço algo de novo, estou sempre a aprender, a tentar melhorar um pouco. E como eu não tenho peias, porque não tenho formação específica, posso ter a liberdade de fazer aquilo que quero. Não correndo riscos, claro. Se por um lado posso fazer o que quero porque sou o dono, por outro lado não posso fazer errado porque sou o dono.

Essa busca constante é muito satisfatória, mas, às vezes, também pode ser frustrante...

Não. Quando falhamos é sinal de que podemos melhorar. Por acaso, falhei uma vez e acabou por ser uma aprendizagem. Eu fazia um vinho de sobremesa, no caso era um branco, e concentrei-o demais e ele ganhou um pouco de volátil em excesso. Tive de fazer ali um truque enológico, que foi diluí-lo. Sobrou uma parte e eu pensei: guardo isto e para o ano meto num vinho branco e ele recua. Não recuou e ganhei uma cuba de vinagre. Foi interessante porque foi com esse vinagre, que comecei o vinagre que a minha filha Luísa vende. Portanto, foi um erro, mas trouxe uma aprendizagem e não perdemos tudo.

Vamos recuar 40 anos, tal como no documentário. Como é que foi essa primeira vindima?

O meu primeiro vinho foi feito nas vinhas da minha sogra. Ela vindimou muito tarde, porque havia pouco pessoal - isto não é só de agora. A sorte foi que não choveu. Grande colheita. E essa foi a primeira vindima que eu fiz. Curiosamente, fiz esse vinho já com uma pequena alteração técnica, que tinha visto em Bordéus. Era um vinho de vinhas velhas, tinha uma coisa que era ilegal na época, mas agora já se pode dizer: pus-lhe água.

Estava lançada a sua carreira no mundo dos vinhos, percurso que o levou a ser considerado um dos grandes responsáveis pela elevação dos vinhos da Bairrada. Foi, inclusive, apelidado de “Mr. Baga” ...

Sou engenheiro de formação. Como tal, sou pragmático. Qual é a visão do engenheiro? Otimizar o produto. Tínhamos um produto que nalguns anos podia não ser tão boa como alguns gostariam, mas noutros anos sim. O meu caminho foi entender o porquê disso. Embora eu tivesse tido cabernet sauvignon, por uma razão comercial - como estava a tentar vender nos Estados Unidos da América e lá ninguém sabia o que era Baga, misturava-a com cabernet sauvignon -, depois disso não plantei nenhuma casta que não fosse local. Aumentei muito a plantação da Baga e estudei-a durante 40 anos. A Baga que eu fazia na década de 80 não tem nada a ver com a que eu faço hoje.

Quantos hectares de vinha é que tem neste momento?

Temos 56 hectares e temos em projeto aumentar no mínimo nove a dez hectares. Que é para ficarem 22 hectares para cada filha.

São três filhas, todas ligadas a esta área do vinho...

Sim. A Filipa já está independente, já voou por si própria. A Maria João está comigo, mas a começar a levantar voo, e a Luísa vai assumir a Quinta do Ribeirinho.

Foi algo natural nelas?

Na Filipa foi completamente natural. A João não. Trabalhou na Efacec e a mãe insistiu para ela vir para aqui para ajudar, tanto aqui como nas viagens ao exterior, uma vez que fala bem inglês. A Luísa está mais ligada às framboesas e aos frutos vermelhos, lá na Quinta do Ribeirinho.

Gosta dos vinhos Filipa Pato?

Gosto. São vinhos feitos por uma geração que gosta de vinhos mais redondos e feitos por uma mulher, que tem um palato diferente do dos homens. As mulheres são, normalmente, melhores provadoras que os homens. Não estou a engraxar ninguém. É mesmo o que penso. Isto é uma questão de sensibilidade. Os homens são mais duros e as mulheres são mais versáteis.

Qual foi o melhor vinho Luís Pato que fez até hoje?

O próximo. É sempre o próximo. Estamos a tentar alcançar algo melhor do que aquilo que fizemos antes. Embora, tenha de reconhecer que tive anos fantásticos, como foi 1995.

A Bairrada tem conseguido afirmar-se bem como capital do espumante?

Temos a obrigação de ser a capital. Não depende do céu, depende dos bairradinos. Mas tenho de lembrar que continuamos à espera de ter uma estação de pesquisa para os espumantes portugueses. Dizem que vai haver, mas vai haver de uma forma muito enviesada. Porquê? Porque se continua a pensar em termos de função pública. Criam logo uma estrutura, que custa dinheiro, e o que era preciso era fazer investigação coordenada a partir da estação.

Dizem-me que vão trazer para aqui castas do Douro para fazer estudo lado a lado e é uma estupidez completa. Deslocalizam-se as castas da região e não se tiram resultados nenhuns. Era preferível ter acordos com produtores e associações nas várias zonas, que forneciam “x” quilos para investigação.

Os seus vinhos já foram amplamente premiados. É importante ver o seu produto distinguido por júris nacionais e internacionais?

Não é tanto pelos prémios, mas mais pelas referências. Usei aquele truque, durante anos, de ser conhecido lá fora para ser melhor conhecido cá dentro. E agora começo a ter o reflexo disso.

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