A universidade da Beira Interior e o Aveiro Media Competence Center divulgaram recentemente um estudo sobre “desertos de notícias”. Esta investigação passou pela análise dos concelhos de Portugal continental e ilhas que têm projetos jornalísticos registados na ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação. Depois dos Estados Unidos da América e do Brasil, Portugal torna-se o primeiro país do continente europeu a estudar esta problemática.
No âmbito deste estudo, entenda-se por “deserto de notícias”, os concelhos sem qualquer noticiário local, e “semi-deserto”, os concelhos com noticiário pouco frequente ou insatisfatório (quanto o único meio é um jornal de periodicidade superior a quinzenal ou uma rádio sem nenhum jornalista). Concelhos “ameaçados” são aqueles que têm um único meio a produzir noticiário local. No caso dos concelhos com dois ou mais meios a produzir noticiário local, diz-se que estão “fora do deserto”.
O estudo conclui que mais de metade dos concelhos em Portugal é ou está na iminência de se vir a tornar deserto de notícias. Dos 308 concelhos existentes, 166 (53,9%) encontram-se em deserto de notícias, em semi-deserto ou estão ameaçados. “Falamos de concelhos que se encontram numa situação de alerta em relação à cobertura noticiosa”, explicam os investigadores. O distrito do Porto é o único do país sem nenhum concelho deserto de notícias, semi-deserto ou mesmo sob ameaça. Por outro lado, os distritos de Bragança, Portalegre, Santarém, Vila Real e Viseu são aqueles onde este problema se faz sentir com mais intensidade.
No distrito de Aveiro, apenas um concelho está deserto de notícias - Vale de Cambra - e quatro estão ameaçados, tendo apenas um meio de comunicação social a veicular notícias - Murtosa, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga e Vagos.Quinze dos 19 municípios do distrito têm meios impressos frequentes; outros três, apesar de não terem meios impressos frequentes, possuem outros meios noticiosos. Os meios digitais estão presentes em 14 municípios do distrito. Finalmente, as rádios estão em 13 concelhos do distrito e, de acordo com o estudo, todas elas contam com produção jornalística local própria.
“Os chamados desertos de notícias são a consequência maior da crise no jornalismo de proximidade, sobretudo em pequenas comunidades”, alertam os autores desta investigação.