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Pedro Pombo: “A ligação à sociedade está na alma da Universidade de Aveiro”

Artes

Pedro Pombo nasceu na cidade da Covilhã, em pleno coração da Serra da Estrela. Foi lá que cresceu, que se formou em Física e que começou a dar aulas no mesmo liceu que frequentara na juventude. Mudar-se-ia, pouco tempo depois, para Aveiro, movido pela ânsia de conhecimento, encantado pelo Campus da academia aveirense e animado pelo mesmo sentido de missão que, ainda hoje, faz com que continue a encarar a promoção da cultura científica como meta e ofício. Aos 53 anos, Pedro Pombo é docente do departamento de Física da Universidade de Aveiro, diretor da Fábrica Centro Ciência Viva e um comunicador empenhado em fazer chegar Ciência a cada vez mais públicos.

A primeira paixão de Pedro, ainda na escola primária, foi a Matemática - era adepto de jogos de cálculo mental. A “professora Candidinha”, uma professora “muito tradicional” – “dava-nos reguadas quando não fazíamos os trabalhos de casa” –, gostava de desafiar a turma a “fazer contas de cabeça”, e Pedro era “dos que mais gostava daquela competição de tentar chegar à resposta certa rapidamente”.

Dos anos do ciclo preparatório, a memória mais distinta é de uma aula de Biologia em que, pela primeira vez, pôde manusear um microscópio. A professora, à época, fez tamanha encenação à volta daquele “equipamento dos cientistas” que, aos olhos daqueles adolescentes, o banal instrumento laboratorial ganhou estatuto de prestígio e reverência. “Nunca mais me esqueci daquela aula”, confessa Pedro Pombo. Por falar em recordações marcantes, há que destacar o nome de José Amoreira, um professor de Física e Química “fora de série” que – desta feita, já no liceu – “dava aulas extraordinárias, com base em técnicas laboratoriais e práticas experimentais”. “Já naquele tempo fazia o que hoje sabemos ser essencial para que o ensino da Ciência seja atrativo”.

À medida que ia crescendo, o gosto de Pedro Pombo pelas ciências expandia-se, aprofundava-se e consolidava-se. E se a atuação inspiradora de alguns professores foi fundamental para este desígnio, o que dizer da influência que o jovem experimentou no seu contexto familiar? Com o pai engenheiro e a mãe física, a Ciência sempre viveu lá em casa. Era uma certeza nas relações familiares e presença assídua nas conversas, nas partilhas e nos silêncios. “Hoje pergunto ao meu filho, que está no oitavo ano, em que área gostaria de seguir estudos e ele diz-me que gosta de tudo. Não sei como é que ele vai fazer...”, admite Pedro. “Naquela altura, eu já tinha tudo muito claro na minha cabeça: queria Matemática, Física e Química”. “Podia não saber muito bem o que fazer com elas, mas tinha a certeza de que eram essas as matérias que mais me interessavam”, garante.

Quando chegou a altura de ingressar no ensino superior, Pedro ainda chegou a ponderar uma candidatura à universidade de Coimbra, mas a notícia de que, “naquele ano, a universidade da Beira Interior ia abrir o curso de Física”, acabou por eliminar todas as dúvidas. “Muitos jovens chegam àquela idade e fazem questão de ir para fora, querem conquistar autonomia, experimentar coisas novas... Eu estava bem ali, confortável e feliz”, ressalva Pedro. Afinal, continua, o “ambiente em casa era fantástico”; por ser apreciador de música e dono de uma boa coleção de discos, tinha-se tornado DJ na afamada Número Uno, a discoteca que servia de ponto de reunião para a juventude covilhanense; e, naquele momento, com a oportuna fundação do novo curso de Física, podia prosseguir os seus objetivos académicos na área que mais gostava mesmo ali, ao lado de casa.

Em ano de estreia do novo curso, a Universidade da Beira Interior convidou vários professores de outras academias para lecionarem na Covilhã. “Um dos convidados foi o professor Pinto Peixoto, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, provavelmente, a pessoa que mais inspirou o meu percurso”, elege Pedro – foi Pinto Peixoto que o motivou para o estudo da ótica, da luz e do laser e que viria a acompanhá-lo no seu projeto de final de curso. “Da universidade de Aveiro, tínhamos como convidados os professores Manuel Fernandes Tomás e Marília Tomás”, prossegue. “Foi a professora Marília que, quando estávamos prestes a terminar a licenciatura, nos disse que em Aveiro havia um mestrado em Física muito bom”. “Fiquei logo com vontade de experimentar, mas antes queria dar aulas”, recorda o antigo estudante, que começou a lecionar Física e Química a jovens do ensino secundário ainda antes de terminar o curso e, curiosamente, na mesma escola onde ele mesmo tinha sido aluno. “Voltar ao local onde me tinha convencido que a Ciência faria parte do meu futuro para ensinar Ciência foi muito especial. Devia ter uns 21 ou 22 anos... alguns colegas tinham sido meus professores! Fui muito acarinhado por todos e a relação com os miúdos era excecional”, garante Pedro que deixaria o ensino ao fim de cinco anos, feliz pela experiência vivida, pelas memórias criadas e pelo legado que conseguira deixar – foi ele, por exemplo, que montou o “primeiro clube de Ciência daquela escola”.

Por querer aprender mais, candidata-se ao mestrado em Física da Universidade de Aveiro. Abandona a Covilhã e muda-se para o que o próprio descreve como “um novo mundo" que, rapidamente, passaria a encarar como seu. “A cidade é maior, mas essa nem foi a mudança mais marcante. O que marca é este Campus. O ambiente que se vive na nossa academia é muito interativo. Há uma proximidade totalmente diferente entre alunos, professores, todos os serviços e suportes, e eu apaixonei-me logo por Aveiro”.Foi no decorrer deste mestrado em terras aveirenses que o professor João Lemos Pinto lhe deu a conhecer o holograma “O Beijo”, um clássico de Lloyd Cross. “É um holograma cilíndrico, de 1974, em que se vê uma rapariga a dar um beijo e a piscar o olho”, descreve Pedro, para logo acrescentar: “E eu tinha de aprender como é que aquilo se fazia!”.

A holografia é a área da ciência que, através da utilização de luz laser e de elementos óticos, permite a gravação e projeção de imagens 3D. Segundo Pedro, é também “uma ferramenta fantástica para motivar os jovens para o estudo da Física, em especial, da ótica”. Fascinado por aquelas esculturas luminosas, torna-se especialista em Holografia e é convidado a permanecer em Aveiro, assumindo a função de professor convidado do departamento de Física.

Os primeiros passos da Ciência Viva

Criado por José Mariano Gago, ministro da Ciência e da Tecnologia do Governo de António Guterres, o programa Ciência Viva dá os primeiros passos na segunda metade dos anos de 1990. Com ele, uma série de iniciativas, ferramentas e recursos passam a estar à disposição de cientistas, investigadores, escolas e público. No âmbito da Ciência Viva, é lançado um programa de atividades científicas para as férias de verão, um concurso nacional de projetos com oportunidades de financiamento para as universidades que se propusessem a para levar ciência experimental às escolas do ensino básico e secundário – Pedro concebeu e coordenou o projeto HoloRede, montando laboratórios de holografia numa rede de mais de três dezenas de escolas por todo o país -, e constrói-se o primeiro science center em Portugal, o Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.

“O ministério da Ciência criou o Pavilhão do Conhecimento, mas percebeu que Portugal precisava de mais centros de ciência próximos das comunidades. Podia ter optado por criar outro grande centro no Porto, mas a ideia passou pela criação de uma rede mais ampla com centros Ciência Viva espalhados por todo o território. Começou-se pelo Algarve e, de forma orgânica, foram surgindo outros, entre os quais, a Fábrica, em Aveiro”, conta Pedro.

“A ligação à sociedade está na alma da Universidade de Aveiro”, pelo que, quando a Ciência Viva se propôs a comparticipar o financiamento de uma nova rede de centros de ciência espalhados pelo país, “dificilmente outra academia no país estava tão bem posicionada para cumprir esse propósito do que a UA, onde muitos docentes e investigadores, principalmente, dos departamentos de Física, Química, Biologia e Eletrónica, já vinham desenvolvendo projetos próprios de divulgação de ciência".

A1 de julho de 2004 é inaugurada a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro. Pensada para ser “um local onde se aprende fazendo” e no qual é sempre possível “interagir com os divulgadores de Ciência, cientistas e investigadores” que orientam as atividades, atualmente, a Fábrica conta com laboratórios com as mais variadas propostas. O objetivo é “despertar a curiosidade dos visitantes” e, por meio de experiências um pouco mais demoradas, ajudar a garantir que “ninguém sai da Fábrica sem ter aprendido, pelo menos, uma técnica ou conceito novo”. Há uma sala de matemática que incentiva à lógica e ao raciocínio, um laboratório de holografia e outro que, na verdade, é uma cozinha; há uma oficina de robótica, um espaço de produção criativa – Dóing – que relaciona a arte com a ciência e a tecnologia e uma sala com um caracol gigante, que serve de espaço de storytelling de “histórias com ciência” para crianças mais novas. Como é habitual nos centros de ciência, a Fábrica conta ainda com duas exposições - “Mãos na Massa” e “E se Mendeleev estivesse aqui?” - com os seus respetivos módulos interativos.

Os desafios de liderar um centro de ciência como a Fábrica

Pedro Pombo é diretor da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro desde 2009. Questionado sobre os principais desafios que a direção deste equipamento lhe acarreta, admite a necessidade de continuar a criar “projetos estruturantes e ambiciosos, pensados com perspetiva de futuro e, principalmente, que tenham impacto e deixem marcas”. Fala também do premente “combate à desinformação” e ao “discurso pseudocientífico”, reforçando a necessidade de continuar a “apostar na promoção da cultura científica da sociedade”, um dos objetivos que esteve na base do programa Ciência Viva. Sublinha, igualmente, a necessidade de assegurar a sustentabilidade financeira do projeto.

De acordo com Pedro, o modelo de negócio da Fábrica assenta sobre três linhas de ação essenciais: a primeira, e mais visível, está relacionada com as visitas ao centro. “Temos as portas abertas e recebemos cerca de 40 mil visitantes por ano, entre escolas, famílias e visitantes adultos”, estima o diretor. “Mas não fazemos só isso” – reforça – “temos capacidade para ‘vender ciência’ de outras formas e noutros contextos”. Veja-se, por exemplo, a segunda linha de ação: o “programa itinerante”, iniciativa que trata de “levar projetos e atividades da Fábrica a outros pontos do país”. “ os nossos principais clientes são municípios, governos regionais e empresas”, acrescenta, dando nota que, com este programa itinerante, a Fábrica tem conseguido “duplicar o número de pessoas por ano que se envolvem nos nossos conteúdos e em iniciativas dinamizadas por nós”. Quanto à terceira linha de ação – “desenvolvimento e comercialização de produtos” - Pedro diz que “surgiu naturalmente”. “As nossas valências – exposições, laboratórios e respetivos conteúdos – foram desenvolvidas por nós, não precisámos de ir comprar ideias e materiais aos science museums dos Estados Unidos. Mas sempre que tínhamos algum evento ou conferência, as pessoas ficavam muito surpreendidas por termos sido nós a fazê-lo. Ora, vimos aqui uma oportunidade: conceber e vender conteúdos para fora”. Neste momento, a equipa da Fábrica tem trabalhos da sua autoria espalhados por centros de ciência e museus em várias cidades do país, bem como no arquipélago de Cabo Verde.

Na opinião do diretor, “a imagem que os aveirenses têm da Fábrica foi mudando ao longo do tempo”. “No início, apesar de estarmos instalados e de portas abertas ao público no centro da cidade, sentia que boa parte dos aveirenses não conhecia a Fábrica. Podiam saber que nas instalações da antiga Companhia Aveirenses de Moagens funcionava agora a ‘Fábrica da Ciência’ - como é vulgarmente conhecida -, mas não sabiam muito bem o que é que se fazia por cá”. “Ao longo dos anos, com a dinamização dos projetos itinerantes e a venda de atividades e conteúdos para fora começámos a ser mais conhecidos e a ter maior visibilidade. Atualmente, penso que a Fábrica é mais reconhecida como polo de divulgação científica e os aveirenses a encaram como embaixadora da cultura da cidade de Aveiro”, remata Pedro.

*Fotos: Afonso Ré Lau

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