Tentei, sem certeza de o conseguir, estruturar num pensamento a forma como vejo toda e qualquer discussão pública neste momento.
A partir de certo momento tudo se tornou preto e banco, zeros e uns, positivos e negativos.
A determinada altura, a opinião própria parece indelevelmente condenada à necessidade de “quórum”, ao confortabilismo perigoso de encontrar mais pessoas a pensar o mesmo que o EU... e assim legitimar essa opinião que perderá, entretanto, a exclusividade e individualidade.
Um pensamento solitário, livre como se pretendem os pensamentos, não tem que ter um gémeo monozigótico que o substancie, lhe dê aprovação e o faça vingar.
Tem que ter um equilíbrio perfeito entre a racionalidade e a emoção e assentar num paradigma quase umbilical de respeito para com a verdade.
Verdade essa que é sempre a terceira e definitiva versão de toda e qualquer história ou experiência.
Vejamos o exemplo da Avenida, muito bem ilustrado por outro cronista da AveiroMag, Tiago Castro, curiosamente um grandíssimo amigo de adolescência e juventude. Dividimos uns 10 metros quadrados de quarto durante quatro anos, em que Lisboa nos ensinou algo sobre a vida que julgávamos já saber.
A vida se encarregou de nos afastar e mais tarde de nos aproximar de novo. Por vezes intervalos precisam-se.
Enfim... Avenida.
Uns circulam pela esquerda, outros pela direita. Ninguém se encontra ao centro, literalmente por não existir um corredor central, e metaforicamente porque não existe diálogo possível entre extremos.
A disciplina partidária e a imbecilidade irritam-me quase tanto como palas nos olhos.
Quanto a mim ... prefiro circular pela esquerda na direção da Estação, parar no Edifício 15, subir de elevador 6 andares e mais um lance de escadas e aterrar no Terraço.
Abraçar o Machado, o melhor miscigenador de destilados que conheço e esperar pacientemente por um Negroni com extra bitter.
O beijo da Mariana e da Rita tornam suportável tudo o que se passa no piso 0.
Ai Portugal, Portugal...
Não vejo Galeras ... mas vejo o fundo do Mar.