Aí está mais uma edição dos Festivais de Outono, iniciativa promovida pela Universidade de Aveiro. Até 30 de novembro, a música toma conta de vários palcos da região, no âmbito de uma programação que aposta, este ano, nos “Sons do Centro”. Pedro Rodrigues, diretor dos Festivais de Outono, explica, em entrevista à Aveiro Mag, que a aposta passou por demonstrar o potencial artístico da região, que já soma uns quantos talentos cujo trabalho é reconhecido em concursos, nacionais e internacionais, de alto nível.
Porquê “Sons do Centro”?
Desde que assumi a direção do festival, em 2019, aquilo que tentámos fazer foi a construção de alguns roteiros que pudéssemos associar ao evento, ao longo do mês em que ele decorre. Alguns roteiros, algumas histórias, algumas referências mnemónicas. No início destas experiências, baseámo-nos em elementos simbólicos, efemérides – por exemplo, celebrámos Beethoven, Amália – e a partir daí decidimos expandir para outros horizontes. O ano passado, por exemplo, decidimos que seria uma viagem pelo mundo da música. Já a viagem desta edição tem como tema “Sons do Centro” e os protagonistas são intérpretes que residem, formaram-se ou têm uma ligação profissional com a região centro. A proposta passa por demonstrar o potencial artístico da nossa região.
E até tem algum potencial...
Um erro relativamente comum é associarmos qualidade a elementos de distância. Sentimos quase que uma necessidade de demonstrar mais o que se passa fora, em detrimento do nosso material humano e artístico. E isso é uma grande injustiça; a capitalização do nosso tecido cultural acaba por se fragilizar em vários setores. Não é uma coincidência termos, no concerto de abertura, a Mafalda Carvalho, que é um primeiro prémio dos Jovens Músicos, tal como a Beatriz Cortesão. Da mesma maneira que não é uma coincidência que tenhamos o Francisco Lourenço, outro primeiro prémio do Jovens Músicos, a fazer o concerto de encerramento. Tudo isto é sintoma de um grande investimento que tem vindo a ser feito ao longo das últimas décadas e é necessário reconhecer e capitalizar todo este potencial.
Esses intérpretes que destacou são da região?
São os três da região e têm sido distinguidos com vários prémios. E nós, enquanto público, devíamos estar conscientes do valor desta nova geração e, evidentemente, também de outras gerações mais experientes.
Apostar num programa dedicado aos “Sons do Centro” foi mais desafiante?
Qualquer decisão em termos de programação artística peca sempre por defeito, na medida em que não temos capacidade para dar aceitação a todas as propostas que nos chegam. Infelizmente, temos uma capacidade para um mês de programação, que rondará os 15 concertos. Aquilo que me dá a sensação é que, em termos daquilo que é a capacidade de projeção, de agenciamento, quando estamos limitados àquilo que é mais conhecido, pode haver uma projeção em determinados nomes. Quando pensamos em pianistas, os nomes que nos lembramos são os mais conhecidos e isso é perfeitamente natural. O que nós estamos aqui a fazer é darmos espaço que normalmente não existe em termos de mercado de trabalho.
Toda esta aposta nos talentos da região surge na véspera de Aveiro ser Capital Portuguesa da Cultura. É mera coincidência ou nem por isso?
Há aqui uma série de conjugações interessantes. Temos os 50 anos de Universidade de Aveiro, a comemoração dos 30 anos do DECA – Departamento de Comunicação e Arte, e também a proximidade de Aveiro Capital da Cultura. O advento da programação Aveiro 2024 é algo em que também teremos uma participação significativa, no próximo ano. Iremos explanar a nossa presença dentro da programação desse evento. Mas, como disse, há aqui uma conjugação de vários fatores.
Uma das grandes marcas dos Festivais de Outono é o facto de não se cingir aos palcos da UA e da cidade de Aveiro, viajando para outros pontos da região, nomeadamente Ílhavo, Águeda e Oliveira de Azeméis. Não abdicam dessa tónica?
Não, pelo contrário, queremos aumentar essa presença e essa participação.
Quais os grandes destaques da edição deste ano?
Isso é sempre difícil de responder. Para quem programa, todos os momentos são relevantes. São 16 concertos no total. Mas destacaria esse novo modelo de concertos, os Outonos em Família. O primeiro acontece no 28 de outubro, no auditório Renato Araújo, com interpretação do Sonum Trio e apresentação de Jorge Castro Ribeiro, professor do DeCA. O segundo, a 5 de novembro, contará com o Coro do DeCA, e apresentação de Vasco Negreiros, professor da UA. A obra a interpretar será “Shakespeare Songs”. De referir também a homenagem ao professor de Guitarra clássica, Paulo Vaz de Carvalho, a 11 de novembro, assim como o concerto de encerramento, com a Orquestra Filarmonia das Beiras, Orquestra de Sopros do DeCA e o solista Francisco Lourenço (viola de arco), sob direção pelo maestro convidado Luís Carvalho.