É nestas zonas serranas que se encontram algumas das mais bonitas estradas da região, sinuosas e ladeadas por árvores majestosas: a EN16-3, cruzando Valmaior, Rendo, Busturenga e Ribeira de Fráguas; a M553, atravessando Vilarinho de São Roque; a M552 e a M1479, serpenteando pelas pequenas aldeias da Serra do Arestal, como Decide, Chã, Arestal, Folhense e Zibreiros, partilhadas por Sever do Vouga e Vale de Cambra. Pelo meio, furando o nevoeiro, que parece des-solidificar as árvores e o alcatrão dando-lhes uma consistência quase incorpórea, faço ainda curtos desvios até Vilarinho de São Luís e Felgueira, antes de atingir o Santuário de Nossa Senhora da Saúde da Serra, em Gestoso, que o Turismo do Porto e Norte de Portugal diz ser “um dos mais importantes santuários de devoção mariana do distrito de Aveiro”.
À chegada, cruzo-me com um casal a vender velharias numa carrinha na berma da estrada, estaciono o carro e dirijo-me ao templo, pisando um imenso tapete de folhas castanhas que amortecem cada passo. Há bastantes fiéis por ali, ou no interior da igreja ou no tocheiro, onde depositam as suas velas ao lado de outras já ardidas e que são agora torrões de cera com formas bizarras. Eu, pouco dado a experiências místicas, opto por ir indagar o que está à venda nas bancas montadas num dos caminhos junto ao santuário. A uma velha vendedora ambulante compro castanhas e bolos de coco e nem um minuto depois, Nossa Senhora da Saúde me perdoe, estou alegremente a perpetrar um dos pecados capitais.
Abandono o bonito santuário, atravessado pelo roteiro pedestre PR5 – Aldeias do Arestal, conduzo por mais uns quilómetros por povoações ali à volta e empreendo o caminho de regresso a casa. Neste outro Portugal encontro coisas maravilhosas – as pequenas aldeias, o parque de merendas de Ribeira de Fráguas, o santuário, as estradas, os ribeiros, as árvores, o silêncio, a paz. Mas também abundantes sinais de despovoamento: pouca gente, casas abandonadas, velhos negócios encerrados. Como eu tanto gosto deste país recôndito, voltarei sempre que puder a percorrer as suas estradas.