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Chancela Gulosa: os melhores sabores da tradição portuguesa

Gastronomia

Afonso Ré Lau

 

Comecemos pelo nome: Chancela Gulosa. Se o substantivo ainda pode exigir alguma elucidação – chancela é um carimbo, uma marca de reconhecimento, autenticidade e pertença – no que respeita ao adjetivo, não há muito que interpretar. Basta entrar no número 2 da Avenida José Estêvão, na Costa Nova, e olhar em volta. Com uma criteriosa seleção de produtos artesanais de várias regiões do país - vinhos, pão, enchidos e queijos, mas também os melhores azeites, vinagres, espumantes, licores, frutos secos e conservas, sem esquecer alguns dos mais deliciosos apontamentos da doçaria tradicional –, os “gulosos” têm nesta nova mercearia e petiscaria um local de referência.

A Chancela Gulosa abriu portas, em pleno verão, mesmo à entrada da Costa Nova, uma terra mais habituada aos sabores leves e frescos do mar e da Ria do que aos paladares telúricos, mais quentes e encorpados, que o novo estabelecimento acabou por trazer. “A ideia era trazer algo de novo, uma proposta que não houvesse aqui na zona”, explica Miguel Gomes que, com a esposa, é coproprietário do espaço.

“Na época balnear, tivemos muitos clientes veraneantes, que vinham usufruir da praia aqui atrás [apesar de ter a porta virada a Nascente, a Chancela Gulosa está a poucos metros do areal atlântico] e faziam uma visita rápida para levarem uma sandes – de leitão, de presunto ou de queijo da serra – ou, ao fim da tarde, para regressarem a casa com um petisco especial”, recorda Miguel. À medida que o outono tomou o lugar do verão, “começámos a contar com outro tipo de clientes, pessoas que vivem aqui perto. Uns gostam de se sentar um pouco, provar umas tapas e beber um copo de vinho, outros preferem encomendar para levar para casa”, descreve. “Já temos quem nos ligue e diga «estou agora a sair de Aveiro, vou passar por aí, pode ter uma caixinha à minha espera?». É muito cómodo para o cliente”.

Natural de Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, Miguel Gomes esteve vários anos emigrado na Suíça. Foi lá que adquiriu a experiência – concluiu dezenas de formações na área alimentar –, desenvolveu o talento – arrecadou vários prémios de relevo em competições entre charcutiers – e ganhou o gosto pelo universo das carnes fumadas e dos queijos. Já com a ideia de se aventurar com abertura de um espaço próprio, regressou a Portugal, percorrendo o território de Trás-os-Montes ao Alentejo em busca dos melhores sabores, aromas e texturas.

E se, nuns produtos, a origem é o fator mais determinante; noutros, o segredo está na forma como é preparado. “Esta barriga – ideal para integrar uma boa feijoada – tem um tempero artesanal que mais ninguém faz. E preparamos uma costela maturada que também não encontra em mais nenhum lugar”, garante Miguel. “Lembro-me de o meu avô, há muitos anos, comer aquilo. Ia buscar uma broa a e uma garrafa de vinho e, com uma navalhinha, raspava à volta do osso. Sabe melhor do que qualquer presunto! Só não tem é tanta carne”, descreve, à medida que nos vai crescendo água na boca.

 

 

Abertos à menos de meio ano, “o feedback dos clientes tem sido muito bom”, assegura Miguel Gomes. Desde os pescadores locais que por ali passam depois da faina para levar uma sandes ou um pedaço de queijo, aos grandes empresários e figuras da política nacional que preferem desfrutar de momentos mais demorado à volta de uma tábua de enchidos bem composta ou de um refinado copo de vinho, a clientela tem sido muito variada. Ainda assim, parece que há algumas características que distinguem o típico cliente da Chancela Gulosa: “É um cliente para quem a qualidade do produto faz a diferença; um cliente que foge da cultura urbana de supermercado, dos produtos industriais, e prefere uma proposta de exclusividade”, resume Miguel.

Antes das despedidas, desafiámos Miguel Gomes a resumir a Chancela Gulosa em três palavras: “Carinho, rigor e sabor”, enumera, depois de alguma ponderação. “Carinho para com os nossos clientes, rigor na seleção dos nossos produtos e a garantia dos melhores sabores da tradição portuguesa”. “E paixão!”, acrescenta a esposa, Maria José, do balcão posterior, onde está a mãos com a preparação de mais uma irresistível bola de carne. “Foi a saudade de tudo quanto é nosso que fez com que regressássemos e apostássemos neste projeto de família”, lembra.

 

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