Conhece a realidade do distrito, de Argoncilhe a Pampilhosa, de Paiva a Sosa? Acredita que a equipa que lidera por Aveiro tem esse conhecimento?
Sim. Este é o meu distrito, de onde sou, onde moro e onde faço a minha vida. Conheço-o bem. Dos dias de praia em Maceda, das caminhadas na serra da Freita, dos percursos de bicicleta pela Ria, do dia-a-dia em São João da Madeira ou em Santa Maria da Feira, mas não só. Conheço-o também porque nos 6 anos em que fui deputado tive a oportunidade de acompanhar todos os problemas do distrito, desde os incêndios nas escombreiras das antigas minas de carvão em Castelo de Paiva até à necessária intervenção na Mata do Buçaco, desde as extensões de saúde encerradas em Ovar até à necessidade urgente de ampliação do hospital de Aveiro, desde a luta da população de Mamodeiro para manter a sua extensão de saúde até à luta de toda uma região – que vai de Espinho a Aveiro – para revitalizar a sua linha de comboio. Sim, conheço muito bem a realidade do distrito.
De uma forma específica, diga-nos três coisas que importa melhorar no distrito?
Há várias coisas que é preciso melhorar, desde o acesso à habitação ou à saúde. Temos concelhos, como Espinho ou Aveiro, onde os preços da habitação são pura e simplesmente impossíveis de suportar para um salário médio e temos muito para fazer no acesso à saúde. Existem equipamentos – como os hospitais de Espinho, de Ovar, de Estarreja, de Águeda, de São João da Madeira ou de Oliveira de Azeméis – que estão claramente subaproveitados e depois existem outros – o hospital da Feira ou o de Aveiro – que não conseguem dar resposta a tanta procura. É preciso investir para que aqueles primeiros possam fazer mais exames e mais consultas, para que tenham resposta de atendimento permanente. É preciso fazer com que os centros de saúde tenham saúde mental, oral e consultas de nutrição. Isso tem de acontecer em todo o distrito. E depois há, claro, questões muitos específicas do distrito: a linha do Vouga tem de ser modernizada. Não basta mudar cascalho e travessa. É mesmo preciso modernizar esta linha. E o parque natural da Ria de Aveiro, já proposto pelo Bloco na Assembleia da República tem mesmo de avançar.
Qual a melhor forma de combater a ideia de que quem chega à Assembleia da República/Governo esquece rapidamente o distrito pelo qual foi eleito?
Consigo pensar em duas formas, pelo menos. A primeira é não abandonar o distrito assim que se é eleito. Creio que muitos o fazem, o Bloco nunca fez isso. O que é não abandonar o distrito? É estar cá todas as semanas, nos dias em que não há Assembleia da República, a reunir com instituições, a visitar a região, a falar com a população, a acompanhar as lutas que se desenvolvem e, claro, a levar tudo isso para o Parlamento. Para que sejam debatidos e votados, para que se solucionem os problemas do distrito. Sempre fizemos isso. E vamos continuar a fazer. A segunda maneira é não tentar enganar as pessoas. O que quero dizer com isto? Vejo muitas vezes partidos como o PS e como o PSD a adotar um esquema que pretende única e simplesmente enganar a população do distrito. Em algumas votações, nomeadamente algumas com impacto do distrito, vemos alguns deputados a votarem de uma forma e o grupo parlamentar a votar de outra forma. Isso serve para que os deputados eleitos no distrito digam que estiveram ao lado do distrito, mas que o partido decidiu em sentido contrário. Isso tem um nome: hipocrisia. Um partido ou está a favor ou está contra um assunto. Não há cá duas ou três posições ao mesmo tempo. Por isso é que é importante votar em projetos políticos e não meramente neste ou naquele indivíduo.
Que resultados espera alcançar no dia 10 de março (número de deputados por Aveiro)?
Crescer, eleger e determinar políticas para o distrito e para o país. Isto é, ter mais votos, mais percentagem e recuperar os deputados que o Bloco de Esquerda já teve pelo distrito de Aveiro. Quem quer votar num projeto à esquerda do PS que tem possibilidade de eleger no distrito é no Bloco de Esquerda que tem a sua escolha certa.
Uma das questões que mais tem preocupado os aveirenses prende-se com a tão aguardada ampliação do Hospital de Aveiro, que tarda em avançar. O que se propõe a fazer em relação a esta matéria?
Não é assunto desconhecido para nós. Temos vindo a interpelar o Governo, por diversas vezes, sobre situações de internamento nas urgências por falta de capacidade para internamento ou sobre a falta de espaço e de condições para a realização de consultas externas. No final de 2021, depois de uma reunião com a administração do então Centro Hospitalar do Baixo Vouga (onde se insere o hospital de Aveiro) denunciámos a falta de autorização, por parte da ARS Centro e da tutela, para o projeto e empreitada de ampliação. Consideramos que essa ampliação é fundamental e como já dissemos há 2 anos, é preciso que os investimentos na saúde deixem de estar dependentes de uma cascata de autorizações que têm como único objetivo criar obstáculos. Por um lado, é preciso que as administrações tenham autonomia para a realização de investimentos; por outro lado, é preciso que a taxa de execução de investimentos deixe de ser residual. Nesta matéria em concreto – de investimento – o Governo tem sido muito vocal, mas, na prática, a execução é baixíssima. Menos propaganda e mais ação, menos obstáculos e mais autonomia. É isso que é preciso.
O traçado da linha ferroviária de alta velocidade tem gerado polémica em vários pontos do distrito. O que tem a dizer às populações afetadas?
É óbvio que o traçado escolhido deve ser o que menos impacto tem nas populações e é óbvio também que, onde haja impacto, as indemnizações e compensações devem ser proporcionais. Há ainda outra questão sobre as opções em cima da mesa. Não podemos deixar de constatar que, falando estritamente de ferrovia, a linha do Vouga continue degradada e quase abandonada e a linha do Norte continue a precisar de intervenção óbvia (por exemplo, para aumentar a sua capacidade e garantir que o Alfa pode circular à velocidade máxima); no entanto, o Governo apenas mostra vontade de avançar no TGV.
Faz sentido investir na requalificação e modernização da linha do Vouga?
Faz todo o sentido. O que não tem sentido é estarmos em 2024 e termos uma linha que atravessa uma parte considerável do distrito em estado de quase abandono. O que não faz sentido é dizer-se que a ferrovia é muito importante, mas depois não mexer um dedo para a modernizar e requalificar. Um comboio a diesel, desconfortável, lento e com poucos horários. Isso é que não faz sentido. O Bloco de Esquerda tem defendido a requalificação integral da linha do Vouga. E por requalificação entendemos modernização, isto é, eletrificação da linha, novos comboios, mais horários, correção do traçado, de forma a que o comboio seja, por um lado, mais rápido, por outro lado, passe junto dos aglomerados populacionais. Isso é que faz sentido. A linha do Vouga pode (e deve) ser um eixo estruturante do distrito, um modo de transporte de massas. Como está é que não pode ficar.