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Nuno Quintaneiro: “Vamos acordar este ‘monstro’ adormecido”

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No próximo dia 20 de abril, o Beira-Mar vai a votos, tendo já o atual presidente, Afonso Miranda, anunciado que não irá recandidatar-se – a decisão, explicou, “tem que ver com a noção que o clube está encaminhado e de que é importante criar oportunidades para novos ímpetos”. Ainda antes de se conhecer esta decisão, Nuno Quintaneiro já tido feito saber que era candidato à liderança. Está apostado em trabalhar a ligação do clube à comunidade e assume que a SAD “é o caminho inevitável para a gestão do futebol profissional”. Em entrevista à Aveiro Mag, também faz saber que, no imediato, não irá “apostar as ‘fichas todas’ numa subida de escalão”.

 

Avança com a sua candidatura em rutura com o atual presidente, Afonso Miranda?

Não, de maneira nenhuma. O associativismo serve para congregar pessoas e não para desuni-las. Tenho uma visão, mas sobretudo, uma metodologia de liderança diferente do Afonso, mas somos bons amigos e reconheço nele um enorme Beiramarismo. O Afonso é um ativo do Beira-Mar e, além de merecer o maior respeito pela coragem que teve ao assumir a liderança, estou convicto que ainda será muito importante e influente no futuro do clube.

 

Afirmou que quer abrir novo ciclo no clube. Está a assumir que o atual ciclo é um ciclo falhado?

Os últimos anos do Beira-Mar não correram como, certamente, os seus dirigentes desejavam. Acredito sempre que quem se propõe liderar estruturas diretivas o faz com a melhor das intenções. Penso que é consensual que, depois da grande crise que o clube sofreu em 2015, todos esperávamos estar, em 2024, num patamar diferente. E não me refiro meramente à questão desportiva da equipa sénior de futebol, que é sempre a mais notada, mas refiro-me ao alheamento da comunidade em relação ao clube, o qual não pode continuar a ser reiteradamente justificado apenas com o desempenho da equipa sénior de futebol. Penso que o problema é estrutural, sendo necessário trabalhar a ligação do clube à sua comunidade muito para além do desempenho do futebol sénior.  

 

O que tenciona mudar em concreto na gestão do clube?

Sem perder a matriz associativa, a qual contempla muito voluntariado e "amor à camisola" no qual eu me incluo, procuraremos caminhar no sentido da profissionalização das estruturas. Não podemos querer ter, por exemplo, uma equipa de futebol sénior profissional sem ter uma estrutura que a suporte qualificada e profissional. Temos imenso trabalho para fazer em todas as áreas de intervenção do clube, seja na vertente da competição e do alto rendimento desportivo, seja na vertente formativa e do ecletismo. É fundamental construirmos um modelo sustentável de desenvolvimento da atividade nestes dois pilares e, claro, cuidar com prioridade da ligação do clube aos seus sócios e à sua comunidade. O crescimento do número de sócios será um dos principais objetivos da nossa gestão.

 

Como avalia a situação financeira do Beira-Mar?

A situação financeira é perigosa. Os sócios e adeptos do clube anseiam uma subida rápida da equipa sénior de futebol aos campeonatos profissionais, mas a atual estrutura de receitas ordinárias do clube está muito distante de suportar essa expetativa. Não podemos querer subir patamares desportivos à custa do endividamento do clube e do abandono do apoio que é necessário dar às restantes estruturas e modalidades do clube. Temos que crescer, como um todo, duma forma saudável e sustentável.

 

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A constituição de uma SAD, anunciada pelas direções de que fez parte, nunca avançou. Se for presidente irá defender essa solução?

Só estive, formalmente, numa direção, entre 2014 e 2016, anos que foram de grande crise e dificuldade do clube. Nesse período foi impossível pensar na constituição duma nova SAD. A prioridade foi salvar o clube e desvinculá-lo da SAD que então existia e que estava a contribuir para a morte do Beira-Mar. No entanto, em termos pessoais, como sócio, desde 2010 que tenho vindo a defender que esse é o caminho inevitável para a gestão do futebol profissional. Tenho uma visão muito específica sobre esta matéria, pois perspetivo a SAD como um instrumento que tem de ser usado para captar investimento, mas tem obrigatoriamente de estar ao serviço do projeto desportivo e social do clube. Em primeira instância, temos de definir e construir as bases do projeto que queremos para a instituição e, num segundo momento, identificar potenciais investidores cujos interesses sejam compatíveis com os interesses do clube. Só depois de devidamente amadurecido esse processo, sem precipitações, poderemos avançar para a apresentação aos sócios duma proposta de constituição de SAD, sendo condição imperativa que a mesma se mostre enquadrada e identificada com o propósito do clube. A direção do clube tem a responsabilidade de liderar este processo, propor um modelo, mas deve atuar com total transparência e promovendo o envolvimento dos sócios na solução que venha a ser preconizada.     

 

A sua candidatura mostra-se empenhada em “envolver a cidade-região de Aveiro com a sua maior e mais prestigiada marca desportiva”. Existe um divórcio de Aveiro com o Beira-Mar? Como é que isso se resolve?

O alheamento da comunidade em relação ao clube é um facto público e notório. Eu cresci com um Beira-Mar extremamente mobilizador, fosse no futebol, no basquetebol, no andebol, na natação, etc. Esta é a memória que trago comigo e que não me deixa perder a ambição de religar este clube que é tão acarinhado pela sua comunidade, mas não tem conseguido mobilizá-la. Sinto que Aveiro reclama um Beira-Mar forte, pujante, com uma atividade centrada em propósitos, valores e princípios com os quais as pessoas se identifiquem. Este posicionamento é absolutamente essencial para captarmos o apoio das pessoas, das empresas e de todas as instituições que contribuem para o desenvolvimento da nossa Cidade-Região. Vamos em busca da recuperação da nossa identidade, na reconstrução da mística Beiramarense que, diz-nos a história do século XX e dos primeiros cem anos de vida do clube, muito contribuiu para unir os Aveirenses. A equipa diretiva que proponho para enfrentar o próximo triénio está absolutamente comprometida com este desígnio. Vamos acordar este "monstro" adormecido!   

 

Em termos de gestão desportiva, quais os seus planos para o futebol?

Para o futebol, assumimos dois momentos distintos fundamentais. No imediato, melhorar as estruturas de suporte à equipa sénior e transportar a filosofia de trabalho que tem sido desenvolvida na Academia, nos últimos anos, para a estrutura sénior. Paulatinamente, tornaremos o Beira-Mar numa referência da formação a nível nacional, pelo que, em todo o planeamento estratégico em torno da equipa sénior este desígnio formador estará presente. Sabemos que este objetivo levará o seu tempo a concretizar-se, mas temos de, com muita arte e engenho, prosseguir este rumo estratégico. No primeiro ano de mandato, vamos trabalhar com a realidade existente e, com a preciosa ajuda de parceiros e patrocinadores, construiremos uma equipa sénior que dignificará o clube e, naturalmente, entrará em todos os jogos com a ambição de vencer. Contudo, para salvaguarda do projeto do clube, temos de ter a frontalidade de assumir que não vamos apostar as "fichas todas" numa subida de escalão. O Campeonato de Portugal tem um formato que torna muito difícil a subida de divisão sem uma estrutura humana e financeira muito fortes, algo que o clube atualmente ainda não tem. Deixo aqui já esta nota importante para não criar falsas expetativas aos sócios e adeptos. Acreditamos num processo realista e de melhoria contínua, em que faremos sempre o melhor com os recursos que conseguirmos reunir, mas direcionados para uma perspetiva estratégica de desenvolvimento e crescimento graduais, sem loucuras!

Paralelamente, trabalharemos para o segundo momento. Precisamos de tempo para captar investimento e para desenvolver uma estrutura interna capaz de responder aos desafios do futebol profissional, sem perder o "gás" no trabalho que temos vindo a fazer na formação. Com o foco num bom processo, trabalharemos para sermos sempre um bocadinho melhores no dia seguinte do que éramos no dia anterior. Ao longo destes anos de vivência do Beira-Mar, aprendi que quando as coisas são bem feitas, com cabeça, conseguimos que os resultados aconteçam mais depressa do que a nossa previsão inicial! Essa é uma grande força do Beira-Mar! 

 

E para as modalidades?

As modalidades são o clube. Todas as modalidades são importantes e estarão representadas na direção. Vamos querer desenvolver um conjunto de projetos conjuntos com todas, mas há um projeto, em especial, que será a nossa "estrela-guia" - a Academia de Desporto. Queremos chegar ao dia em que os pais da nossa comunidade, ao pensarem em colocar os filhos a iniciar a prática desportiva, tenham o Beira-Mar como a sua primeira opção. Temos um plano para executar esta ideia, mas será apresentado e trabalhado, internamente, com as estruturas dirigentes das nossas modalidades antes de ser apresentado ao público. No entanto, é importante que esta ideia seja assimilada, pois servirá de linha de rumo para o desenvolvimento da formação desportiva e do ecletismo no nosso mandato e, assim acredito, nos anos seguintes. Para além da estruturação dum modelo organizacional que seja apto a responder às exigências deste desafio, pretendemos criar um gabinete técnico para trabalhar numa proposta concreta de concretização deste projeto. 

Acreditamos que, daqui a alguns anos, o clube estará em condições de olhar para algumas das suas modalidades e lançá-las também nos contextos de alto-rendimento, mas temos que dar um passo de cada vez.

 

Ser presidente do Beira-Mar é um sonho pessoal?

Nunca tive esse sonho, nem sequer essa vontade. Desde muito pequeno que sinto, vivo e penso este clube. Naturalmente, fruto desta vivência, ao longo do meu percurso, fui assumindo várias colaborações em vários domínios e departamentos. Por amar Aveiro, sempre quis que o Beira-Mar tivesse um projeto desportivo e social que respondesse aos anseios dos Aveirenses e procurei aconselhar, influenciar, da melhor forma que consegui, as sucessivas gestões do clube. Chegados a este momento, sinto que estamos num ponto muito perigoso para a própria sobrevivência do clube. A sociedade está a mudar e o clube está cada vez mais distante da ambição que tenho de o ver e sentir ligado às pessoas. Esta candidatura é a consequência da necessidade que se evidenciou em mim de dar um passo em frente e assumir esta responsabilidade. Poderei falhar, obviamente, e a história irá fazer esse julgamento, mas pior do que falhar, será nunca ter chegado a tentar. A partir do momento em que senti o apoio das pessoas que têm estado ao meu lado ao longo destas mais de três dezenas de anos de convivência Beiramarense, de antigos e importantes dirigentes, e de empresários da região que têm estado ao lado do clube nestes anos, enchi-me de energia e decidi assumir esta candidatura. Sei que uma parte do sucesso dependerá de mim e da minha equipa, mas também sei que a outra parte dependerá do apoio que vamos ter da comunidade. Vamos em busca desse merecimento! 

 

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