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O Mercado das Madrugadas instala-se em Aveiro e desafia-nos a pensar nas próximas revoluções

Artes

Performance integra a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril preparada pelo município de Aveiro e faz parte da programação da Capital Portuguesa da Cultura. 

 

 

É um mercado, é uma performance, é uma peça de teatro, mas é, sobretudo, um mercado no sentido de troca. É a recriação de uma praça como ela devia de ser, uma praça onde se pode encontrar pessoas e trocar ideias”, desvenda a criadora Patrícia Portela, a propósito do Mercado das Madrugadas, espetáculo que apresentará, entre os dias 24 e 27 de abril, em Aveiro. Uma performance que coloca “várias gerações, com experiências diferentes do 25 de Abril, a discutir, a pensar, a dançar, a festejar, mas também a questionar ‘o que é isto de fazer uma revolução’ e ‘que revoluções é que ainda temos de fazer nos próximos 50 anos’”, acrescenta a autora de performances e obras literárias, em declarações à Aveiro Mag.

“Estou muito grata a Aveiro de poder estrear o Mercado das Madrugadas numa data tão simbólica”, confessa, já quase no final da conversa, a criadora que tinha apenas um mês de idade quando aconteceu a “revolução dos cravos”. “Nasci no golpe das causas. Sou filha de abril e sou da geração que ouviu o tempo todo dizer: vocês não fazem ideia de como é que isto era”, reconhece, sem esconder que foi esta a sua grande motivação para produzir este espetáculo. “Sempre quis fazer algo sobre o 25 de abril, mas mais no sentido de ter uma experiência, viver no corpo. Na minha geração, Timor foi o mais próximo que tivemos de ter contribuído para uma grande mudança”, declara.

Patrícia Portela sente que a sua geração “carrega uma história”, que não é sua, é dos seus pais, e que não está a conseguir “passar para os próximos”. “Porque também é uma geração perdida. Herdámos uma promessa incrível e desaguamos aqui num neoliberalismo fatal e tem que haver uma mudança. É necessário saber onde estamos”, argumenta, reparando que o Mercado das Madrugadas quer fazer isso mesmo: desafiar o público a parar e pensar.

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“Já experimentámos fazer só uma leitura em Coimbra e é muito bonito porque se sente que é uma coisa que todos nós precisamos de fazer. Há momentos de paragem, de partilha, de conversa, mas é um espetáculo do princípio ao fim”, desvenda a criadora do espetáculo que acontece na rua e “com um elenco de luxo”. Diogo Dória e João Grosso estão entre o grupo de intérpretes, juntamente com Ana Rocha, Beatriz Teodósio, Célia Fechas, David Costa, Elsa Bruxelas, Fred Botta, Miguel Baltazar, Mónica Coteriano e Sara Alexandra.

“Temos três gerações de atores, com dois grandes mestres como o João Grosso e o Diogo Dória, na casa dos 60-70, depois outros na casa dos 40-50, e também a nova geração, dos 20-30”, vinca. Cada uma delas, com diferentes experiências e vivências em relação ao 25 de Abril de 74, prossegue, desvendando que o ator João Grosso, por exemplo, dará voz a uma história real. “Na altura do 25 de abril ele tinha 15 anos. A 24 de abril lembra-se de estar a conversar com um amigo e estavam muito chateados, porque a vida era uma chatice, não se podia fazer nada, não se tinha dinheiro, as pessoas eram perseguidas pela polícia. No dia seguinte, acordaram e estava tudo diferente”, desvenda a encenadora, frisando: “Esta peça também passa por aí. Se amanhã fosse diferente, queríamos que fosse como?”.  

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