Se há terra que tem recorrido às páginas da História para fazer eco das suas qualidades no que à democracia e liberdade dizem respeito, é a cidade de Aveiro. E, reconheçamos, tem legitimidade para tal – foi aqui, à beira da ria, que se travaram importantes batalhas contra o regime do Estado Novo. O que não deixa de ser lamentável é que, exatamente no ano em que comemoramos os 50 anos do 25 de Abril, surjam sinais preocupantes. Demasiado preocupantes.
Vem isto a propósito dos comentários que foram sendo feitos a duas das principais notícias publicadas pela Aveiro Mag nos últimos dias. Comecemos pela mais recente, conforme mandam as regras do jornalismo: a associação Agora Aveiro juntou três imigrantes (um iraniano, uma indiana e uma brasileira) e colocou-os a confecionar pratos típicos dos seus países de origem para vários convidados. O objetivo? “Promover a inclusão social de imigrantes e refugiados em Aveiro, através da partilha de comida, receitas e tradições”, destacam os responsáveis pela associação. Qual não é o espanto quando vemos que a notícia referente a este evento acabou por suscitar, nas redes sociais, vários comentários xenófobos, que não abonam nada a favor dessa bandeira “Aveiro, terra da Liberdade” que tanto gostamos de apregoar.
Igualmente vergonhosa foi a forma como alguns cidadãos reagiram ao mais recente projeto de arquitetura de Eduardo Souto Moura na cidade. É verdade que gostos não se discutem - e não é por estar em causa um detentor do Prémio Pritzker que somos obrigados a amar o desenho final do imóvel -, mas a falta de respeito manifestada em parte dos comentários escritos nas redes sociais (mais uma vez) revela uma grande falta de decoro.
É caso para perguntar quando é que a tolerância deixou de fazer parte das nossas vidas? Qual foi o dia em que deixámos de aceitar que o outro pode ter uma opinião diferente da nossa? Em que momento passámos a olhar com desdém para aqueles que escolhem Aveiro para viver, ajudando as nossas empresas a resolverem um grave problema de falta de mão de obra?
Algo vai mal.
Precisa-se de mais eventos de inclusão, como aquele que a Agora Aveiro está a promover. Precisa-se de mais comentários e opiniões construtivas (sim, é possível discordar sem maltratar). Precisa-se de mais cidadãos dispostos a marcar a diferença pela positiva.