AveiroMag AveiroMag

Magazine online generalista e de âmbito regional. A Aveiro Mag aposta em conteúdos relacionados com factos e figuras de Aveiro. Feita por, e para, aveirenses, esta é uma revista que está sempre atenta ao pulsar da região!

Aveiro Mag®

Faça parte deste projeto e anuncie aqui!

Pretendemos associar-nos a marcas que se revejam na nossa ambição e pretendam ser melhores, assim como nós. Anuncie connosco.

Como anunciar

Aveiro Mag®

Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 49, 1.º Direito, Fracção J.

3800-164 Aveiro

geral@aveiromag.pt
Aveiromag

As memórias que nunca tive

Opinião

Francisco Pinho

 

 

Nostalgia é uma palavra feia, não por aquilo que é, mas por aquilo que representa. É sempre feia, como diria o meu amigo Miguel, relembra-nos que tudo é irreversível. Não há nada que se possa fazer para voltar atrás, não dá para conhecermos alguém pela primeira vez de novo, ou ver um filme pela primeira vez de novo, para ler um poema pela primeira vez de novo e não dá, especialmente, sentir o que sentimos de novo.

“O Tako fechou. Ficam as memórias”, é o título de um texto que o meu Pai escreveu. Eu tenho algumas memórias de ir ao Tako com o meu Pai, desde de criança, mas não eram essas memórias que me ligavam lá. Eram as memórias dele. As memórias que nunca tive. Eu conseguia-me conectar ao café, porque sabia que ali era um sítio que o meu avô estava- conectar-me ao Tako era como conectar-me ao meu avô. As únicas memórias que tenho do meu avô Domingos são as memórias do meu pai e eu só me conectava a elas nos sítios onde eu sabia que ele tinha estado, sítios esses que vão desaparecendo.

Sempre que passava pelo velhinho estádio Mário Duarte sabia que o meu avô tinha feito lá dezenas de jogos e enchia-me de orgulho passar por lá (ainda me encho de orgulho sempre que digo a alguém que o Eusébio jogou com o meu avô); mas o Mário Duarte já não está lá. Agora quando passo pelo parque onde estava o estádio, não tenho memória de nada. Sempre que passava perto da Praceta, lembrava-me que o meu avô vivia ali, sabia que o meu Pai tinha jogado à bola naquela rua e que o meu avô e ele tinham tomado café no Tako infinitas vezes. Soube, desde muito cedo, que a única vez que o meu avô me tinha pegado ao colo, foi nesse café e que esticou os braços no ar e me apresentou ao mundo.

Nada disto são memórias minhas, mas sinto-as como se tivesse lá estado com toda a consciência, nenhuma memória do meu avô é minha, não o conheço, mas sei (porque o meu pai me disse há mais ou menos vinte anos), que a estrela que brilha mais forte à noite, é o meu avô a piscar-me o olho. Posso não ter nenhuma memória dele e podem apagar os sítios que me conectam à memória dele, mas enquanto aquela estrela brilhar, sei que não me esqueço dele.

 

* Francisco é filho de José Alexandre Silva e neto de José Domingos

Agueda Publicidade

Deixa um comentário

O teu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.