“É um enorme privilégio e uma validação do trabalho que tenho vindo a desenvolver ao longo dos anos”. É assim que Ivo Tavares, fotógrafo aveirense especializado em arquitetura, reage ao reconhecimento, entre milhares, de 52 projetos por si fotografados. “Para mim, este reconhecimento não é apenas sobre a fotografia, mas sobre a capacidade da arquitetura portuguesa de dialogar com o mundo”, afirma, confessando-se honrado por poder contribuir para dar visibilidade a estes projetos e aos seus autores.
Tendo fundado o Ivo Tavares Studio, o fotógrafo dedica-se a capturar a essência dos projetos através da sua lente. Na sua opinião, o que distingue os projetos premiados é “a sua capacidade de respeitar e dialogar com o lugar onde estão inseridos”. “Existe um cuidado em criar espaços que não apenas respondem às necessidades funcionais, mas têm também uma forte ligação com a paisagem e a cultura locais”, sustenta o profissional, considerando como fio condutor essa “sensibilidade arquitetónica que valoriza o contexto e a experiência humana”.
Prova disso são dois projetos por si fotografados recentemente, finalistas ao Prémio ArchDaily Brasil Obra do Ano 2025: o Edifício A’MAR, do atelier REM’A Arquitectos; e a requalificação da Praça do Município de Ribeira de Pena, do atelier AXR – Arquitectura e Design.
Para Ivo Tavares, cada projeto é único, pelo que a sua abordagem começa sempre com uma pesquisa aprofundada “não só sobre a obra, mas também sobre o atelier e o conceito por trás do edifício”. No entanto, diz preferir não visitar o local previamente, porque gosta da surpresa de o descobrir no dia. “Essa descoberta espontânea permite-me captar a essência do espaço de forma mais autêntica e intuitiva”, revela.
Segundo dá conta, a luz é a sua principal ferramenta para criar atmosfera. “Observar como ela incide nos volumes, desenha sombras e transforma os materiais é fundamental”, sustenta, acrescentando que o silêncio, por outro lado, o ajuda a conectar-se com o espaço e a perceber a sua essência. Para isso, sublinha, é essencial dedicar tempo ao lugar. “O meu processo de trabalho envolve viver o espaço do nascer ao pôr do sol, como se o habitasse. Esse tempo permite-me descobrir as atmosferas que já existem no lugar, em vez de tentar criá-las artificialmente”, explica.
Embora considere a técnica e o rigor fundamentais, Ivo Tavares admite que a emoção é o que dá vida às imagens. “Acredito que a fotografia de arquitetura deve ir além da forma; deve contar uma história, evocar sensações e criar uma ligação emocional com quem a observa”, revela, apontando esse equilíbrio entre técnica e emoção como o que torna cada imagem única.
Reconhecendo que existem edifícios que, pela sua forma ou localização, possam parecer mais fotogénicos, acredita, no entanto, que tudo depende do olhar. “Cada projeto tem algo único a oferecer e o desafio do fotógrafo é encontrar essa singularidade e traduzi-la em imagens que contem a sua história”, atesta.
Questionado sobre se já lhe aconteceu ser surpreendido por algum projeto, não hesita em responder: “várias vezes”. “Às vezes, um projeto que à primeira vista parece simples, revela-se extraordinário quando se começa a explorar os detalhes, a luz e a relação com o lugar. É uma lição constante de que a arquitetura é muito mais do que aquilo que vemos à superfície; cada espaço tem a sua própria história, cabe-nos descobri-la”, aponta.
O fotógrafo diz sentir o peso da responsabilidade, na medida em que a fotografia de arquitetura é, muitas vezes, a primeira forma de contato das pessoas com um edifício. “Por isso, sinto a responsabilidade de ser fiel ao projeto, mas também de criar imagens que despertem curiosidade, emoção e uma nova forma de olhar para a arquitetura”, refere.
Ivo Tavares confessa que o seu olhar se tornou “mais atento e sensível” ao longo dos anos, admitindo que hoje dá mais importância aos detalhes, à luz e à narrativa que quer construir com cada imagem. “No início, estava mais focado na técnica; agora, procuro um equilíbrio entre técnica e emoção, sempre com o objetivo de contar a história única de cada projeto”, diz.
A Casa da Levada, que fotografou recentemente, é um exemplo que o marcou profundamente, “pela forma como o edifício se integra na paisagem e respeita o lugar”, que considera inspiradora. “Foi um dos momentos em que senti que a arquitetura e a fotografia estavam em perfeita harmonia, criando algo verdadeiramente especial”.
Ivo Tavares, que dá formação nesta área, revela que um dos conselhos que costuma dar aos novos fotógrafos é: “aprendam a observar”. “A técnica é importante, mas é o olhar que faz a diferença. Observem a luz, os detalhes, as histórias que os espaços têm para contar. E, acima de tudo, sejam pacientes e persistentes; a fotografia é uma arte que se constrói com tempo e dedicação”, partilha.
Quanto ao que os arquitetos devem ter em mente quando trabalham com um fotógrafo, defende tratar-se de uma colaboração essencial, na medida em que “quanto mais o arquiteto partilhar sobre o conceito e a intenção do projeto, melhor será o resultado”. “É importante que o fotógrafo compreenda a visão do arquiteto, para que as imagens reflitam essa intenção de forma autêntica e impactante”, remata.
Entre os projetos de Aveiro nomeados para Obra do Ano 2025 fotografados por Ivo Tavares estão: a Casa Forca-Vouga (RVDM Arquitectos); a Casa do Parque (Paulo Martins Arquitectura e Design); Campus F.03 (Grau.zero Arquitectura); e a Casa Mortuária de Oliveirinha (Sónia Cruz Arquitectura).
Do distrito constam as seguintes: a Casa Cor de Sal, na Costa Nova (Rómulo Neto Arquitectos), a requalificação e ampliação das instalações da Exporlux, em Valongo do Vouga (Espaço Objecto); o Edifício Lux, na Praia da Barra (Mário Alves Arquitecto); a Casa Quase Verde, em Ovar (PSB arquitectos); a Casa AS, em Santa Maria da Feira (Mário Alves Arquitecto); e a Casa R. P., o interface de transportes de Lourosa e a Casa J.M.C., todos em Santa Maria da Feira (e todos do Atelier d’Arquitectura Lopes da Costa).