Paula Urbano Antunes*
Numa tarde de abril, sábado de sol, os aveirenses disseram «presente» à democracia local e à participação. No mês em que comemoramos o «dia inicial inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e do silêncio».
Foi esse dia, em 1974, que nos deu a liberdade de participarmos nas decisões políticas, com o nosso voto. Foi esse dia que nos deu a liberdade para questionarmos, exigirmos, sugerirmos e participarmos, enquanto cidadãos, na vida das nossas comunidades. De diversas formas.
Os eleitos representam os eleitores. Nem todos. Há os que não se fazem representar. Não participam nos atos eleitorais. Arredados do dever cívico, não prescindem do direito à participação.
Sob o tema da Democracia Local, Giovanni Allegretti e Jose Carlos Mota fizeram perguntas e deram respostas. Para que queremos a participação? Para resolvermos problemas?
As novas gerações crescem num momento difícil da nossa democracia. Os processos democráticos não são valorizados pelos jovens. Não participam nos mesmos. Ainda que vivam com a ansiedade, a imprevisibilidade, a incerteza, a incapacidade para gerir o futuro, que a transição energética e ecológica, a economia circular, as migrações, lhes suscitam.
Com a possibilidade de serem intergeracionais, os orçamentos participativos fazem sentir aos cidadãos que estes têm poder. Podem ser o ponto de partida para a gestão partilhada de um espaço e de um tempo comuns. Para as pessoas. Podem devolver o sentido de pertença aos que habitam os bairros e as freguesias. Assim se constrói comunidade. Assim se promove a coesão. Social e territorial.
A construção de uma candidatura política é o primeiro momento de auscultação dos cidadãos. Estes, podem contribuir com ideias para o programa eleitoral. O poder não é exercido apenas pelos eleitos. É exercido com os outros e não pelos outros. O poder é dado ao eleito pela autoridade moral que, enquanto candidato, ganhou junto dos eleitores. Quando o programa é elaborado com base nas necessidades e nos interesses do seu promotor e não com base nas necessidades e nos interesses dos beneficiários do mesmo, a sua execução não correrá bem.
Abrindo a construção do programa eleitoral ao público, confrontamo-nos com os cidadãos. Nós, não tememos esse confronto. Este foi o nosso quarto encontro temático. O futuro constrói-se com todos. Com os seus contributos, ideias e sugestões. Por uma comunidade melhor. Uma comunidade que é uma manta de retalhos de problemas mas também de oportunidades.
Não nos esqueçamos de que somos livres de participar na democracia que nos governa porque há quase 51 anos houve homens e mulheres, inconformados, que fizeram ouvir a sua voz. Fazendo uma revolução tão bonita cujo símbolo é uma flor vermelha e cujo cenário foi o mês em que a primavera se afirma com todo o seu esplendor de renovação.
Alimentemos, pois, a democracia, participando, ativa e empenhadamente, nessa causa comum que é a melhoria das condições de vida no nosso Município.
* Psicóloga e presidente Comissão Política Concelhia de Aveiro do Partido Socialista