É a própria enóloga bairradina quem nos conduz, numa carrinha pick-up, ao longo das vinhas situadas em Casal Comba, no município da Mealhada. A visita ao terreno torna-se essencial para percebermos o que está verdadeiramente em causa quando é referido que os vinhos de Filipa Pato são biodinâmicos – isto é, feitos com uvas produzidas a partir de agricultura biodinâmica. “É verdade que é um desafio fazer biodinâmica na Bairrada, mas eu gosto de desafios”, conta a produtora, enquanto nos conduz ao longo do caminho de terra batida que dá acesso à parcela de terreno onde tem vários porcos. “O animal é fundamental na agricultura biodinâmica”, aponta. No caso dos porcos, explica, revolvem a terra e vão controlando as ervas daninhas.
Filipa Pato e o marido, William Wouters, fazem questão de tratar a vinha de forma natural (sem pesticidas ou herbicidas) e até já foram reconhecidos por isso – receberam o Green Emblem da Robert Parker Wine Advocate. “Estimulamos a biodiversidade com a plantação de arbustos, medronheiros, e usamos imensas plantas que têm capacidades antifúngicas, como é o caso do aloé vera”, explica Filipa Pato, durante a visita aos 20 hectares de vinha que tem em Casal Comba. “Usamos, inclusive, plantas que não estão em livros de biodinâmica, porque foram escritos por estrangeiros”, especifica, sem esconder que o processo não foi fácil. Mas “impossível” é uma palavra que não consta no seu dicionário.
Para transformar o difícil em realidade, Filipa e o marido têm estudado e experimentado muito, sempre com o propósito de ter uma produção o mais sustentável possível. Disso é exemplo o facto de produzirem o seu próprio carvão para fertilizar as vinhas. “É uma forma de nos livrarmos da lenha de poda. Este carvão é melhor que a cinza”, destaca. Recentemente, também começaram a usar um drone para pulverizar as vinhas. “É energia limpa e não estraga o solo da vinha”, realça a produtora que é uma das principais embaixadoras da casta da Bairrada, a Baga. Está entre os fundadores da associação Baga Friends, que criou o Dia Internacional da Baga, celebrado anualmente no primeiro sábado de maio.
Comida e vinho sobre a mesa
No próximo dia 3 de maio, a tradição volta a cumprir-se, com vários produtores a abrirem as suas adegas com programas diversificados ao longo do dia (entre as 10h00 e as 18h00). O objetivo é só um: promover a casta rainha da região. Na quinta de Filipa Pato, a proposta assenta em algumas boas degustações, ou não fosse o seu marido chef e sommelier. Salsichas de leitão (dos porcos biodinâmicos das vinhas centenárias), ostras e chocolate belga harmonizado com o vinho fortificado Espírito de Baga, preenchem o programa preparado pelo casal para receber os convivas na sua adega (é necessário bilhete, que pode ser adquirido no website dos Baga Friends).
A avaliar pelo repasto com que Filipa e William nos brindaram no final da visita às vinhas – com panna cotta de requeijão, roasted beef fillet e delícia de chocolate negro belga - a degustação do Dia Internacional da Baga promete.
Fica também essa boa notícia: o casal está a reconstruir uma antiga casa de agricultor, em Óis do Bairro, para abrir ao público uma loja e um espaço dedicado aos espumantes. “Não só os nossos, mas também outros”, anuncia a produtora, formada em engenharia química, que aposta em fazer “vinhos autênticos” e “sem maquilhagem”. Aguardamos pela abertura.