Diz-se que Portugal é um país de poetas. É capaz de ser uma daquelas mentiras em que gostamos de acreditar. Porquê? Porque para escrever boa poesia a primeira condição é ler poesia ainda melhor. Ora, se dermos uma volta por uma livraria comum, quase não encontramos livros de poesia. A poesia vende-se mal. Sem muitos e grandes leitores de poesia, nunca seremos, como país, lá grandes poetas.
Vem isto a propósito do Dia Mundial da Poesia, 21 de março. E para não falar apenas de um autor de poesia, sugerimos hoje a leitura dos grandes poetas portugueses, a partir das antologias “Os poemas da minha vida”.
Por volta de 2005, o jornal Público pediu a uma série de figuras destacadas da sociedade portuguesa que dissessem quais os poemas da vida deles. E assim, Mário Soares, Freitas do Amaral, Eunice Muñoz, Miguel Veiga e António Lobo Xavier, entre outros, elaboraram antologias individuais, todas com o mesmo título “Os poemas da minha vida”.
Qualquer uma delas é uma ótima introdução à poesia portuguesa. Peguemos na de Mário Soares, que inaugurou a coleção. Lá encontramos composições desde o tempo de D. Sancho I, passando por autores como D. Dinis, Camões, Filinto Elísio, Bocage, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa, Sophia, Natália Correia, Eugénio de Andrade, Manuel Alegre ou Ary dos Santos – para só nomear alguns.
Escreve Mário Soares, no Prefácio, que “poucas literaturas deram um espaço tão grande à pessoa, como a portuguesa, entre os géneros literários que mais marcaram a nossa língua”. O falecido Presidente da República também achava que “somos um país de poetas, de grandes poetas!”. Ora, se nas musas não nos inspirarem suficientemente para criar versos, ao menos deliciemo-nos com os poemas dos outros. Talvez se encontrem lá as musas.
Os mais novos, hoje, têm bons instrumentos de para conhecer e fazer poesia nos livros do Plano Nacional de Leitura, como é exemplo o livro “O pássaro da Cabeça e mais versos para crianças”, de Manuel António Pina, que é “leitura obrigatória” para o 5.º ano. O pássaro da cabeça é o principal instrumento para criar poesia (e muitas outras coisas). Também aos adultos dá jeito conhecê-lo.
Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta
canta onde lhe apeteça
Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
mesmo as que julgas que não
Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada
E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão
e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.
(Manuel António Pina)
* Na Ror de Livros, os livros da série “Os poemas da minha vida” estão disponíveis por 5 euros cada. “O pássaro da Cabeça e mais versos para crianças”, de Manuel António Pina (Porto Editora), custa 3 euros. A Ror de Livros fica na Rua Senhor dos Aflitos, n.º 9, em Aveiro. Atende pelo facebook.com/rordelivros, por mail (rordelivros@gmail.com) ou pelo telefone 968437237.