Nataša Gološin
Há 16 anos, cheguei à minha nova cidade — Aveiro — com muitas certezas pessoais, mas completamente perdida no que dizia respeito ao meu futuro profissional. Tinha deixado o meu trabalho como jornalista em Belgrado, consciente de que mudar-me para um país onde não falava a língua podia significar “reformar-me” de uma carreira que adorava profundamente.
Ainda assim, tinha vontade de aprender, de me ligar aos outros, de encontrar um novo sentido neste novo contexto. Comecei à procura de uma ONG local onde pudesse ser voluntária — ser cidadã ativa, conhecer pessoas, melhorar o meu português, e encontrar um sentimento de pertença à comunidade. Mas… não existia nenhuma organização assim.
Então… criei uma.
E foi assim que nasceu a Agora Aveiro.
No dia 26 de maio, há 15 anos, cofundei esta organização com algumas pessoas muito especiais — e desde então, tem sido uma viagem incrível.
A verdade é que raramente paro para refletir. Os dias, os meses, os anos têm sido intensos e acelerados — cheios de projetos, deadlines, viagens e jovens que entram e saem pela nossa porta. Neste ritmo, é fácil esquecer de perguntar: qual é mesmo o impacto do que estamos a fazer?
E provavelmente nem estaria a escrever tudo isto, se no sábado passado não me tivesse acontecido algo muito especial.
Durante o TEDxAveiro, reencontrei o Gonçalo Hall — hoje uma referência no mundo do trabalho remoto e do nomadismo digital. E durante a sua talk, ele partilhou com toda a gente que para ele tudo começou com um projeto da Agora Aveiro, no qual participou há muitos anos.
Aquilo mexeu comigo.
Essa lembrança inesperada — de que algo que ajudámos a criar pode ser um ponto de viragem na vida de alguém — deu-me um momento raro de clareza, gratidão e orgulho.
A Agora Aveiro acolheu, empoderou e inspirou tantos jovens que já há muito deixei de os contar. Chegaram com perguntas e curiosidade — e saíram com novas competências, experiências internacionais, amizades, confiança e coragem para traçar os seus próprios caminhos. Aprenderam muito e, se não mais, pelo menos alguns aprenderam a falhar — porque também sempre fomos uma plataforma segura para isso.
Olhando para trás, sinto-me incrivelmente orgulhosa.
A Agora Aveiro é mais do que uma ONG — é um espaço de pertença, crescimento e ação. É um lugar onde as ideias ganham forma e os futuros começam. Costumo dizer que é como um comboio em movimento, onde as pessoas entram para uma viagem, ficam connosco um tempo, deixam algo e levam algo… e depois seguem para novas aventuras.
A todos os que fizeram parte deste percurso — obrigada. Nem vou tentar a nomear todos os que tornaram a minha vida mais bonita, e o meu trabalho mais divertido e cheio de sentido nestes últimos 15 anos.
Vamos continuar a construir um mundo onde toda a gente se possa sentir em casa — esteja onde estiver.
